Jornal Correio Popular Notícia

COOPERATIVISMO
Cooperativas que transformam vidas e cidades

Data da notícia: 2025-07-18 11:42:42
Foto: Jairo Ardull

Está na essência do cooperativismo a união para atingir objetivos em comum. Em torno dele, as pessoas se aproximam para adquirir produtos, produzir bens e oferecer serviços. A base desse sistema secular é sustentada por pilares como a colaboração, a participação democrática e a busca por soluções coletivas, que contribuem para promover o bem-estar da comunidade da qual faz parte. Contraditoriamente, a aplicação desses conceitos, ainda que bem fundamentados, passa por uma dose de desconfiança e outra maior ainda de persistência, antes de se chegar aos resultados que possam transformar a vida das pessoas.

O Cooperativismo

Embora a história retrate os primeiros passos do cooperativismo no Brasil a partir do século 19, foi no começo do século 20 que ele se tornou uma opção viável para solução de problemas comuns de algumas comunidades, e ganhou força com a chegada de imigrantes europeus ao país. A partir daí, ele foi se disseminando em diversos ramos, adquirindo força e organização. Por aqui, o registro da primeira cooperativa data de 19 de abril de 1944, sete meses após a criação do Território Federal do Guaporé que (1943), que, em 1956, trocaria de nome para Território Federal de Rondônia e, em 1981, seria transformado em estado de Rondônia.

Primeira Cooperativa

Tratava-se da Cooperativa Central dos Seringalistas do Guaporé, com sede em Porto Velho, que foi criada durante o segundo ciclo da borracha por donos dos seringais para dois fins bem específicos: adquirir mantimentos e ferramentas para abastecer seringueiros nas áreas de extração e comercializar a produção. Sabe-se, contudo, que ela pouco serviu de inspiração para que outras cooperativas fossem fundadas, mas foi referência histórica para que outras instituições, a partir das décadas de 1980 e 1990, se proliferam pelos municípios rondonienses.

Bons Exemplos

Dois bons exemplos dessa nova mentalidade vieram de Ji-Paraná. Em 13 de abril de 1995, um grupo formado por 26 médicos realizou a assembleia de fundação da Unimed Ji-Paraná – cooperativa de trabalhos médicos –, que se propunha a trazer união para a classe e estruturar um novo modelo de planos de saúde. Em 18 de fevereiro de 1997, nasceu a Cooperativa de Crédito Rural de Ji-Paraná, a Ji-Cred. Ainda que em ramos diferentes, mas mantendo o ímpeto de coragem e persistência, essas cooperativas tiveram na formação um elemento comum no processo de colonização do estado: o acolhimento.

Por acolher se entende o ato de receber, aceitar e dar apoio a alguém, principalmente, no aprendizado. “Tínhamos os médicos, os hospitais e ainda faltava organizar a classe. Pessoalmente, eu enviei cartas aos médicos convidando eles [sic] para a assembleia de fundação da Unimed Ji-Paraná, mas, desde aquele momento, já sabíamos ou já imaginávamos a que a cooperativa não ficaria apenas nos limites do município”, lembrou o primeiro presidente da Unimed Ji-Paraná, o médico Carlos Silva. Premonição, trabalho árduo ou a busca incessante por capacitação profissional e inovação tecnológica confirmaram essa certeza.

Inauguração JiCred

Há exatos 819 dias, após a fundação, em 16 de junho de 1999, a Ji-Cred, inaugurou a primeira agência. A demora se deve, em outras razões, a experiências malsucedidas em outras áreas do cooperativismo, ainda presentes na mente dos empresários locais, que dificultaram as adesões. Com resiliência foi possível reunir 40 empresários/cooperados, que também eram produtores rurais, para o início que se mostrou promissor, porém com muitos desafios. “Eu nunca cogitei a possibilidade de um dia desistir de fazer a Ji-Cred funcionar”, lembrou Neudair Chaves, primeiro presidente da cooperativa de crédito.
 
Com o mercado local dominado por planos de saúde de empresas nacionais, a própria permanência da Unimed Ji-Paraná como cooperativa médica passaria pela conquista dos beneficiários até chegar ao número em que fosse possível viabilizar a estrutura administrativa. “Não foi fácil. Faltava a todos nós o conhecimento do que era uma cooperativa médica que oferecia plano de saúde. Mas éramos daqui, morávamos aqui, os nossos beneficiários eram daqui. Antes da Unimed, as pessoas contavam com o serviço público precário [de saúde] ou vendiam o que tinham para pagar a conta do hospital”, lembrou Gilberto Domingues, segundo presidente da Unimed.

Novo Modelo de Assistência

De fato, nos casos de acidentes ou de doenças graves, os pagamentos pelos serviços tinham de ser feitos à vista ou parcelados em cheques. Com a introdução do plano de saúde próprio, houve o que pode ser chamado de democratização do atendimento. Ele garantiu que mais pessoas tivessem acesso aos serviços privados de saúde, como também estimulou a atualização (ou inovação) de equipamentos nas clínicas existentes e a vinda médicos especialistas. Em pouco tempo, essa mudança trouxe segurança em emergências e a possibilidade de cuidar da saúde de forma preventiva.
 
Ao abrir as portas, a Ji-Cred passou a conviver com as limitações inerentes ao próprio funcionamento de uma cooperativa de crédito. “No começo, a gente tinha pouco conhecimento de como a coisa funcionava. Aprendemos a trabalhar fazendo, porque ninguém tinha dúvida que isso ia funcionar. Passamos a cuidar do nosso dinheiro, dinheiro que sempre ia embora quando ficava nas mãos de outros bancos”, lembrou Milton Crevelaro, segundo presidente da Ji-Cred (1944-2025). O cuidado com o dinheiro do cooperado veio acompanhado da responsabilidade social e a distribuição de lucros, que não faziam parte das obrigações das instituições privadas.

Fundação JiCred

Assim, em 9 de janeiro de 2003, nasceu a Fundação JiCred com o objetivo de apoiar grupos em situação de vulnerabilidade social em bairros menos assistidos de Ji-Paraná com a criação de um ambiente de aprendizado. Em 1º de abril de 2007, foi criado o Projeto Sonho Meu que ampliou o atendimento a crianças e jovens de 8 a 18 anos, com atividades esportivas, culturais e educacionais no contraturno escolar. Em mais de duas décadas de funcionamento, a entidade se orgulha de ter mudado para melhor a vida de quase 4 mil alunos com programas que priorizam o conhecimento e autoaceitação.


Responsabilidade Social e Sustentabilidade

Por sua vez, a Unimed, em três décadas, contribuiu para inúmeros eventos sociais, culturais e esportivos. A cooperativa, por exemplo, é parceira do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) no projeto "Colhendo Sementes, Construindo Viveiros, Plantando Florestas", que produz mudas nativas para a recuperação de áreas degradada, e vencedor do “Prêmio Innovare de 2024” do Conselho Nacional de Justiça. Nele, foram repassados ao TJRO mais de 3,5 milhões de sacolinhas plásticas para o plantio das mudas. “Esta é a nossa maneira de assumirmos nossa responsabilidade pela sustentabilidade e pelo futuro”, frisou o médico Alcílio de Souza, atual presidente da cooperativa.







Projeto Orquestra em Ação e Escola JS de Futebol

Há também a participação no Projeto Orquestra em Ação, surgido em 2003, que é coordenado pela Associação Amigos da Orquestra de Ji-Paraná, que oferece, gratuitamente, aulas de violino, viola, violoncelo, contrabaixo acústico, canto coral infantil e adulto, violão, guitarra e contrabaixo elétrico, piano, instrumentos de percussão, teoria musical e musicalização infantil para alunos das redes municipal e estadual de ensino. A iniciativa já contribuiu para a formação de centenas de alunos. E, há 20 anos, a cooperativa médica incentiva a preparação de atletas, apoiando os trabalhos de iniciação da Escola JS de Futebol, uma proposta que disciplina e incentiva crianças e jovens, promovendo a prática esportiva, saúde e inclusão social.   

-

Transformando Vidas e Cidades

Nos dois exemplos ji-paranaenses de cooperativismo, as contribuições estimularam a economia local como a abertura de novas empresas, geração de emprego e distribuição de renda no próprio município, como também ajudaram a transformar as regiões nas áreas de atuação de cada instituição. A persistência e a ousadia iniciais resultaram, no caso da CrediSIS JiCred, nomenclatura adotada a partir de 2012, na criação de 375 postos de trabalho, 26 agências (em Rondônia e Mato Grosso) e em mais de 34 mil cooperados. “Os acertos administrativos consolidaram as bases da história da nossa cooperativa. Eles foram responsáveis por estabelecer uma relação de excelência, por sempre colocar o associado em primeiro lugar”, lembrou o presidente atual, Sérgio Milani.   



Ao longo de três décadas, a Unimed não apenas cresceu a base de beneficiários, atingindo a marca de 40 mil, mas também se estabeleceu em 41 dos 52 municípios rondonienses, abrangendo as áreas correspondentes aos municípios de Itapuã do Oeste a Pimenta Bueno (norte e sul) e também de Ji-Paraná a Costa Marques (leste e oeste), com o apoio de 350 colaboradores.  Por causa dessa expansão territorial, a denominação Unimed Ji-Paraná foi substituída, em 2022, por Unimed Centro Rondônia, por ser mais adequada à atuação das operações.

A cooperativa médica não apenas cresceu em números, mas também se consolidou com investimentos em tecnologia, capacitação de profissionais e parcerias estratégicas que foram fundamentais para garantir o atendimento de alta qualidade. A atual rede de assistência é formada por 286 médicos cooperados, 77 médicos credenciados, 24 hospitais, 59 laboratórios, 81 clínicas multidisciplinares e 12 serviços próprios. “Nós, diretoria, cooperados, beneficiários e colaboradores, seguimos o único caminho possível: o do crescimento, que foi a busca constante por capacitação e especialização para oferecermos o melhor, com bons resultados, para todos que acreditaram em nós”, reconheceu Alcílio de Souza.  

Fonte: Jairo Ardull




Compartilhe com seus amigos:
 




www.correiopopular.com.br
é uma publicação pertencente à EMPRESA JORNALÍSTICA CP DE RONDÔNIA LTDA
2016 - Todos os direitos reservados
Contatos: redacao@correiopopular.net - comercial@correiopopular.com.br - cpredacao@uol.com.br
Telefone: 69-3421-6853.