Correio Popular Notícia

O futuro no GuaporÃ©, depois Cone Sul
O futuro no GuaporÃ©, depois Cone Sul MONTEZUMA CRUZ Um total de 375 Ã´nibus lotados, 317 caminhÃµes com mudanÃ§as e 177 automÃ³veis que tambÃ©m traziam famÃlias resultavam na mÃ©dia de oito veÃculos por dia. Em 1979 RondÃ´nia sentiu na carne o peso da migraÃ§Ã£o: precisou nÃ£o apenas dos minguados recursos da Secretaria da PromoÃ§Ã£o Social, mas principalmente do MinistÃ©rio da SaÃºde, para enfrentar o alastramento de endemias ?importadas?. Em 1980 ?o bicho pegou?: nenhum migrante ficava em Vilhena, entÃ£o, com 30 mil habitantes. Todos pernoitavam ou, no mÃ¡ximo, ficavam atÃ© dois dias na cidade. Pagavam as contas nos hotÃ©is e pensÃµes, juntavam os pertences e adquiriam passagens de 170 a 250 cruzeiros para Cerejeiras, Cabixi e Colorado do Oeste. O catarinense Avelino Daros, com 52 anos na Ã©poca, contava ter deixado a litorÃ¢nea AraranguÃ¡ para plantar soja em VerÃª, no sudoeste paranaense. Dali ele ouviu falar de RondÃ´nia, viajou 2,5 mil quilÃ´metros, e veio comprar dois lotes somando 80 alqueires, em Colorado. Sofreu um tanto. O acesso Ã cidade era impossÃvel no perÃodo chuvoso. TrÃªs anos antes de o deputado SÃ©rgio Carminato (PMDB) defender o ?povo do Cororado? (sotaque dele) na tribuna da AssemblÃ©ia, lÃ¡ se iam as levas de migrantes para ocupar, alÃ©m de cidades prÃ³ximas ao eixo da BR-364, aquelas mais distantes, no GuaporÃ©, mais tarde denominado Cone Sul. Naqueles futuros municÃpios os colonos sulistas penavam ao deparar com surtos de malÃ¡ria, verminose, leishmaniose e picadas de cobra venenosa. NÃ£o bastasse tudo isso, alguns deles vergavam sob Ã¡rvores ou toras tombadas na mata ou caÃdas de caminhÃµes. Aqueles que um dia tiveram fartura lutariam bastante para tÃª-la de novo por aqui. Caminhavam lÃ©guas levando nas costas o cacaio (saco com mercadorias), a exemplo de Jeremias Oliveira, 57, vindo de Mandaguari (PR). Em menos de dois anos no Colorado ele teve a terceira malÃ¡ria. NÃ£o resistiu e morreu antes de ser levado para um hospital em Vilhena. Tudo era semelhante nos projetos AbaitarÃ¡ e Corumbiara, do Incra, que concentravam atÃ© entÃ£o as frentes da reforma agrÃ¡ria no sul rondoniense. Em matÃ©ria de dor, sofrimento e perseveranÃ§a, eles repetiam a faÃ§anha dos que acreditaram serem felizes um dia, optando por assentamentos dos projetos Riachuelo, Gy-ParanÃ¡ (na Ã©poca com G), Marechal Dutra e noutros onde o mosquito anofelino nÃ£o escolhia os menos ou mais resistentes Ã s picadas. Entrando nesses redutos, a pessoa tinha quase 90% de certeza de que nÃ£o se livraria facilmente da malÃ¡ria, doenÃ§a da qual RondÃ´nia foi ?campeÃ£? mundial. Com certeza, um campeonato Ã s avessas, no qual o ser humano nÃ£o passava de um nÃºmero a mais nas estatÃsticas do MinistÃ©rio da SaÃºde. ...