O SOM DO NATAL
O SOM DO NATAL
* Por Luiz Carlos Amorim
Estou, finalmente, terminando meu livro de contos de natal neste final de ano. E mais um tema me ocorreu, ao lembrar-me das gaitas de boca ? ou gaita de sopro, ou simplesmente gaita, ou ainda, harmônica de boca - que em toda casa que tinha criança era ouvida no natal. Acho que a última geração que ganhou as tais gaitinhas que tinham o som do natal foi a minha.Há décadas que não ouço a gaitinha de boca. No natal passado eu deveria ter saído para procurar e ver se achava, para comprar para meus sobrinhos ? há vários meninos na família com idade entre zero e oito anos ? mas acabei não comprando porque não sabia onde encontrá-las - nos lugares onde fui não vi as saudosas gaitinhas.Lembro que no dia de natal a gente tocava muito ? tocar é maneira de dizer, a gente apenas soprava ? mas o importante era fazer aquele som, ouvir aquele som, um som que tinha a cara de Natal. E a gente continuava nos dias após o Natal, alguns até se irritavam com o barulho. Mas era o som característico da época natalina e o natal não era natal sem aquele som.
O som das gaitinhas fazem falta tanto quanto faria a flor do jacatirão, caso ela não desabrochasse no final do ano. Talvez porque não tive nenhum filho menino, a gaitinha foi se distanciando no tempo e eu não percebi. Mas este ano já procurei e encontrei as gaitas de boca e já comprei várias para dar a todos os meninos da família.Não sei porque as gaitinhas pararam, há algumas décadas, de ser populares. Aqui mesmo em Santa Catarina temos uma fábrica, a Harmônicas Catarinense Ltda, em Blumenau, que produz há oitenta e sete anos as Harmônicas Hering, a gaitinha de boca que foi tradição nas mãos de guris pequenos até os anos sessenta.
De lá pra cá, parece que as novas gerações esqueceram do som de Natal que as gaitinhas têm e não as deram mais para seus filhos, quase não as ouvimos mais, a não ser tocadas por profissionais da música.
Espero que os pais de hoje lembrem da gaita de boca ou gaita de sopro ou harmônica e voltem a dá-la de novo a seus filhos pequenos, para que ouçamos, de novo, o som do Natal.
Sei que as canções natalinas, tantas delas e todas belíssimas - há até uma com letra minha, "O Natal que eu Quero", que estou enviando de cartão para os amigos -, os sinos e o ?Ho, Ho, Ho? do Papai Noel são sons que traduzem o Natal, que nos fazem lembrar de um Menino Sagrado que está nascendo, mas o som singelo e melodioso da gaita deve voltar a incorporar esse rol.
* Luiz Carlos Amorim é Coordenador do Grupo Literário A ILHA que publica mais de 50 livros. É editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA e autor de 26 livros de crônicas, contos e poemas.
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