NUVEM DE VENENO
[CENTRO][B]NUVEM DE VENENO[/B][/CENTRO]
[CENTRO]* Luiz Eduardo Cheida[/CENTRO]
O Paraná, campeão nacional na produção de grãos, joga no ambiente 4 mil toneladas de agrotóxicos por ano. Isso perfaz a assustadora cifra de 66 Kg de veneno por minuto! No solo, dentro dos rios, no ar, no interior dos alimentos, dentro da gente e de outros animais.
Além desta estonteante cifra, há os agrotóxicos contrabandeados que, entrando pelo Paraguai, já se constituem em 30% do veneno utilizado no oeste do estado.
Somando-se o oficial e o pirateado, acredita-se que o Paraná destine ao ambiente 5 milhões de quilos de veneno a cada ano.
Mas, uma outra quantidade de veneno estoca-se dentro das propriedades rurais desde há mais de 20 anos, quando foram banidos por lei. Destes, mais de 2 milhões de quilos é BHC e outros 2 milhões de quilos que atendem pelos apelidos de Eldrin, Aldrin, Dieldrin, Clordane, Lindane, Heptacloro, Gama BHC, Parathion, Azodrin, Nuvacron, Temik, Gelecron, Fundal, 2-4-3 T ou agente laranja, EDB, DBCP, Paraquat, e fungicidas à base de mercúrio. Enfim, estima-se que o Paraná tem, em lugar incerto e não sabido, 4 milhões de quilos de veneno proibido.
Somando-se o que se usa anualmente na agricultura ao que está em lugar ignorado, direta ou indiretamente, as pessoas entram em contato com 9 milhões de quilos de agrotóxicos todos os anos.
É uma nuvem de veneno!
O Estado não sabe onde o veneno proibido está e quem sabe tem medo de contar. Sabe por que?
Há 23 anos, o hexaclorobenzeno, o popular BHC, organoclorado útil no combate à broca do café e à lagarta do algodão, foi proibido no Brasil.
Já impedido no Primeiro Mundo, sua última grande partilha chegou como uma gigantesca promoção comercial. Em verdade, o que se pretendia era transferir os estoques mundiais proibidos para os nossos agricultores. Um ano depois de desovado, também foi proibido por aqui. Quem segurou o produto na propriedade, respeitando a lei, tornou-se fiel depositário. Alguns, entretanto, mantiveram-no de forma clandestina, no porão da casa, enterrado no terreiro, dentro do poço, na tulha ou dentro do rio.
E o tempo passou. E muita gente esqueceu.
Resultado: o veneno proibido, embora guardado ou escondido, continua ativo, mas muito dele não mais se consegue localizar.
Só há um modo de fazê-lo, que é estimular quem o tem sob guarda a dizer. Sem medo de sansões penais ou administrativas.
Por isso, a deputada Rosane Ferreira e eu fizemos um projeto de lei que confere período de seis meses para que qualquer pessoa que tenha agrotóxicos proibidos sob sua responsabilidade possa declará-los sem que recaia sobre si alguma punição. O projeto também obriga o Estado a ampla campanha de esclarecimentos sobre onde e como proceder a auto-denúncia. Além disso, autoriza o governo a firmar acordos de cooperação técnica para a retirada deste veneno e sua incineração.
O passivo ambiental que este modelo agrícola nos traz é por demais nocivo. Diria, mortal. Nenhuma sociedade mantém-se equilibrada dessa forma. Devemos buscar um outro modelo. Mais natural, mais lógico, mais responsável.
Nossas crianças merecem esta chance.
Um forte abraço e até semana que vem.
* Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná.
...