A escola e o bem-estar integral de seus alunos
*Erika de Souza Bueno
No peito, um vazio imenso. Nos olhos, mais uma lágrima entre tantas outras. Dias e dias vão se passando e ainda não se entende como tudo aconteceu daquele modo. As ideias se misturam e os fatos começam a ter contornos ilógicos, nada mais parece ser a verdade.
O vazio do peito dá lugar a um coração cheio de lembranças, cheio de dor e que se nega a acreditar que um dia tudo vai passar. Numa tentativa de sobreviver a tudo o que aconteceu, agarra-se às lembranças de tempos felizes, pois elas são as únicas coisas que sobraram de tudo o que foi ou não vivido.
Lembra-se da companhia daquele alguém que hoje não está mais disposto a dar sua companhia, lembra-se de momentos que poderiam ser mais bem-aproveitados. Mas a vida precisa continuar e, com ela, esperanças inexplicáveis começam a brotar.
A dor da ausência parece infindável, mas, diante dela, há apenas duas alternativas: entregar-se à dor e às suas cruéis consequências, ou erguer os olhos, mesmo com lágrimas, e tentar, pelo menos mais uma vez, continuar vivendo da forma e na medida do possível de cada um.
Você já viveu momentos assim? Já passou por situações em que tais sentimentos tomaram conta de sua mente? Pois é, nossos alunos também passam por isso, mas nem sempre são atendidos em suas necessidades.
Às vezes, as circunstâncias que comovem o aluno e que o fazem pensar que é o fim do caminho não são tão graves quanto algumas experiências vividas por nós, mas, independentemente da gravidade, para o aluno pode ser difícil tanto quanto foi ou é para nós sobrevivermos em tempos de grandes apertos, vamos assim dizer.
Quantos de nós já nos sentimos sem chão quando um ente querido perde o emprego, fica doente ou, até mesmo, em graus mais leves, nosso carro estraga, somos multados, entre tantas outras possibilidades?
Nossa mente, em alguns momentos, ocupa-se apenas de um fato ocorrido conosco e, dessa forma, queremos ser compreendidos em nossas razões. O aluno, mesmo quando está em sala de aula, também quer e precisa ser atendido em seus dramas, mesmo que estes não aconteçam na proporção e no tempo em que estamos dispostos a atendê-los.
Na sala de aula, muitos alunos, ainda que jovens, vivem confusos quanto a várias questões em que se veem envolvidos. Essas questões, por exemplo, podem envolver a separação dos pais, a perda de um animalzinho de estimação, a ausência de alguém que fez promessas que não cumpriu... Enfim, os fatores são tantos, mas o professor pode ajudar seus alunos a superá-los.
Nossos alunos precisam saber que tais momentos são inevitáveis e todos, independentemente de quaisquer aspectos, estão sujeitos a passar por tempos difíceis. É importante, também, que o professor aponte a família como base para o aluno e, mesmo que ela possa parecer sem estrutura, em toda família há alguém no qual o aluno pode, verdadeiramente, confiar. Ele só precisa saber que essa pessoa existe e identificá-la.
Dessa maneira, a escola precisa também estar consciente de seu papel em vários aspectos da vida do aluno, pois a não compreensão de um professor pode distanciar facilmente a atenção do aluno quanto a quaisquer assuntos que se desejar trabalhar.
Em contrapartida, ao abordar temas de ordem emocional, por exemplo, a escola está construindo pontes, aproximando-se da realidade de seus alunos. Está, de fato, promovendo uma educação mais próxima do integral, que considera e respeita os vários setores da vida do aluno. Está, de fato, promovendo educação de boa qualidade.
* Erika de Souza Bueno é consultora pedagógica de Língua Portuguesa da Planeta Educação e editora do Portal Planeta Educação.
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