A VIOLÊNCIA E A PERSISTÊNCIA
[B][CENTRO]A VIOLÊNCIA E A PERSISTÊNCIA[/CENTRO]
* Luiz Eduardo Cheida
O vento e o sol discutiam sobre quem era mais forte. Olhando para a terra, viram um homem caminhando, vestindo seu casaco. O vento desafiou:
- Quem de nós o fizer retirar o casaco é o mais forte.
Concordando, o sol pediu que o vento agisse primeiro.
E ele fez o que sabia fazer: soprar. Soprou forte. O homem, sentindo frio, abotoou o casaco. Ele soprou mais forte ainda, com violência, e o homem, fechando ainda mais a vestimenta, encolheu-se todo. Constatando que, quanto mais violento, menos chances de fazê-lo despir-se, parou de soprar.
Foi, então, a vez do sol.
A princípio, o sol brilhou fracamente. O homem endireitou o corpo. Em seguida, brilhou mais forte. O homem desabotoou o casaco. Por fim, brilhou com grande intensidade. O caminhante, encalorado, retirou o casaco completamente.
- Você é o mais forte ? admitiu o vento.
- Não ? respondeu o sol ? sou apenas o mais persistente.
A humanidade está diante de uma encruzilhada civilizatória. Nosso modelo de civilização parece ter esgotado as chances de manter o planeta ambientalmente equilibrado.
O progresso que a maior parte do mundo persegue é o bem-sucedido padrão norte-americano de consumo. O mesmo que faz seus 350 milhões de habitantes consumirem 25% da energia e matérias-primas produzidas na Terra. É fácil entender que, se todas as pessoas tivessem este padrão, o planeta suportaria só 1,4 bilhões delas. Entretanto, já somos mais de 6,5 bilhões! Mesmo assim, as pessoas perseguem este padrão. Ele não é matematicamente possível, mas é o padrão desejado.
Além de não ser aritmeticamente viável, este modelo é competitivo, é excludente, é gerador de misérias e mazelas sociais; é intrinsecamente pernicioso porque descarta os que não se enquadram; intrinsecamente mau porque alija os que não o reproduzem; é predador dos recursos naturais, é produtor de passivos ambientais, é uma ameaça à integridade física e biológica do planeta. Mesmo assim, é desejado com um fervor religioso.
O modelo de civilização buscado pela maioria não garante a permanência da maioria no planeta. Por isso, estamos diante de uma crise civilizatória.
Diante de crise de tamanhas proporções, é preciso insistir em um outro padrão de comportamento. Um padrão que, em vez de competitivo, seja solidário. Em vez de excluir, inclua. Em vez de gerar misérias e mazelas sociais, promova o desenvolvimento individual e coletivo. Em vez de descartar quem não se enquadra, garanta chances desiguais aos desiguais. Em vez de alijar os que não o reproduzem, valorize aqueles que apontam caminhos diferentes. Em vez de predar, poupe os recursos naturais. Em vez de produzir passivos ambientais, produza alternativas naturais. Em vez de ameaçar o planeta, coloque-se ao lado dele.
E não adianta como o vento, usar a violência para que tais padrões estabeleçam-se. Como o sol, é preciso persistência.
Ser persistente na defesa da solidariedade. Persistente na busca da inclusão. Persistente na construção do desenvolvimento individual e coletivo. Persistente na tolerância para com os desiguais. Persistente na valorização dos que pensam diferente. Persistente, enfim, na busca de um novo modelo civilizatório que, sem perder o dom de produzir cultura, nos faça voltar a conviver com o mundo natural.
Em verdade, a crise civilizatória é uma crise de valores morais. A natureza venceu. É preciso admitir. É hora de substituir a velha moral humana por princípios naturais. Mesmo que não o façamos pelo mundo natural; que o façamos apenas por nós. Por nossa exclusiva sobrevivência.
A natureza já teve paciência demais.
Um forte abraço e até semana que vem.
* Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. [/B]
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