Como folhas secas levadas pelo vento
Como folhas secas levadas pelo vento
* Erika de Souza Bueno
Há dias que nos damos conta de que estamos como folhas secas soltas em meio a um impetuoso vendaval. Parece que nada do que falamos ou fazemos é levado a sério, pois ninguém se interessa se estamos bem ou não. Normalmente, as pessoas tendem a mostrar indiferença quando o assunto não é com elas, passam por nós e, quando muito, reparam nos nossos olhos vermelhos pela noite em claro.
Precisamos compartilhar o que sentimos, o que queremos, mas sem perder de vista o que desejamos para um futuro próximo, o que queremos, de fato, viver daqui para frente. Às vezes, o sentimento de solidão e abandono é tão grande que queremos que as pessoas se importem, pelo menos um pouquinho, com aquele mal-estar passageiro que sentimos dias antes, mas elas, infelizmente, dificilmente vão se importar.
Agimos, muitas vezes, como uma criança que nos mostra um machucadinho bem pequeno para ganhar nosso cuidado e nosso afeto, mas, diferente de uma criança, o que estamos apresentando aos outros são mostras de um isolamento que é, por consequência, agravado pelas feridas causadas nos momentos de dor que tivemos de viver. Embora todo esse quadro ser perceptível a olho nu, as pessoas, geralmente, pouco se importam se estamos ou não em desvantagem ou, simplesmente, sensibilizados por algo que acaba de nos acontecer.
Como folhas secas jogadas ao ar, carregadas para lugares desconhecidos por nós, assim nos sentimos ao ver o pouco caso que nossas dores causam em pessoas com quem temos contato diariamente. Muitas vezes, queremos apenas que elas deem um olhar de compaixão, falem algo como ?se cuide, viu??, mas inúmeras vezes somos surpreendidos pela apatia e pelo desdém que tomam conta de toda uma vida.
Como resposta a tudo isso, aprendemos muito rapidamente com essas pessoas e passamos a agir como elas, perpetuando um círculo de grosserias, indelicadezas e insensibilidades. Agindo assim, estamos, novamente, nos deixando levar a lugares que nem sempre queremos ir. Deixamos que os estímulos externos governem sobre nós e, em vez de assumirmos o controle de nossas vidas, simplesmente vamos deixando os anos se passar, levando com eles todo o nosso vigor e disposição de, pelo menos, tentar alterar o curso dessa história.
Ora, não somos folhas secas e, como seres capazes de reassumir a autoria de nossa história que é escrita dia a dia, temos de reagir, nem que para isso tenhamos que enfrentar assuntos um pouco desconfortáveis para nós. Reassumir a autoria envolve muito mais do que possamos perceber num primeiro momento. Envolve repensar os momentos que agimos por impulso, os momentos que perdemos a educação diante de algum fato, os momentos que, sim, estávamos errados na mensagem que acabou sendo entendida incorretamente por alguém. Envolve também entendermos que, de um modo ou de outro, também falhamos a respeito de algo ou alguém, e em vez de nos entendermos como vítimas, termos consciência de que também é nosso papel irmos em busca do que queremos conquistar.
Essa conquista, por sua vez, não é palpável no começo, mas, à medida que o tempo vai passando, ela será evidenciada nos pequenos gestos de outras pessoas, estas que são prêmios incalculáveis da nossa vitória sobre a indiferença e o pouco caso.
Conquistar pessoas é maior, mais nobre e mais feliz do que se pode, com palavras, mensurar. Por isso, vale a pena tentar mais uma vez. Reflita, decida-se, recupere o tempo perdido sob o comando de ventanias que levaram você a lugares, hoje, incompreendidos.
* Erika de Souza Bueno é Coordenadora-Pedagógica do Planeta Educação e Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). ...