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SONS ORGÂNICOS
*Por Adilson Luiz Já disseram que a voz humana é o instrumento musical mais perfeito! Os instrumentos musicais passaram a acompanhá-la, em princípio, apenas com acordes introdutórios. Aedos, bardos, menestréis, trovadores e outros artistas cantavam histórias desde a Antiguidade, e quanto mais belo o seu canto, permeado pelo lirismo e pela ironia, mais se tornavam famosos e celebrados. A diversidade e o potencial da voz a dividiu, posteriormente, em naipes: barítono, tenor, contralto, soprano... O fascínio por ela também gerou absurdos, dentre os quais, a aberração dos castrati talvez seja a mais emblemática. O canto gregoriano e os corais polifônicos deram ar divino e épico à voz humana, ao ponto de afirmarem que quem canta ora duas vezes. Mas foi com advento dos grandes solistas que a voz humana atingiu seu ápice. Enrico Caruso, Maria Callas e Luciano Pavarotti são conhecidos porque há registros de suas vozes. No entanto, quantos outros podem ter sido ainda maiores, antes deles? Isso não impedia, como não impede, que grandes vozes nos encantem no canto popular. E não precisam ser potentes! Chico Buarque tem uma voz "pequena", mas ninguém interpreta suas músicas melhor do que ele! Elizeth Cardoso nunca precisou gritar ou quebrar copos de cristal para nos maravilhar com sua voz. Já os falecidos Jessé, Minnie Riperton e Withney Houston conseguiam alcançar notas altíssimas, mas chegavam a irritar, com essa constância. Outro dia, lembrei de alguns grupos vocais: Tamba Trio, Quarteto em Cy, MPB4, Boca Livre, Os Três do Rio, Os Cariocas... Eles nem precisavam de acompanhamento instrumental, pois suas vozes já eram mais do que suficientes para preencher todos os espaços. Alguns desses grupos até imitam os instrumentos que acompanhavam o canto! Recordei, ainda, do "Swingle Singers", grupo vocal criado nos anos de 1960, no qual vozes masculinas e femininas brincam com melodias de todos os tipos, mesclando qualidade musical com bom humor performático. Ouvi a formação inicial do grupo quando tinha uns oito anos e o estilo "ba-dá, ba-dá" nunca mais saiu de minha mente, como o "laiá-raiá" que sempre nos salva das letras esquecidas. Fruto desse bate-papo "internético", fui dar um passeio no YouTube para, depois de ouvir e ver, pela enésima vez, sua impagável versão da "Abertura 1812", de Tchaicovsky, encontrar outro grupo: "The Vocal People", que canta e faz acompanhamento "instrumental" de várias músicas. Depois, foi a vez do fantástico "Barbatuques", cujos integrantes usam o corpo como instrumento musical! Tudo muito diferente dos "tchum-tchurum-tchum-tchum", "tchum-cum-tchác" e outras onomatopeias entoadas por certos "cantores", com as bênçãos de mídias que querem converter "popular" em sinônimo, barato e lucrativo, de má qualidade. A voz humana, quando bem usada, é maravilhosa, eclética, emocionante e grandiosa, mesmo quando singela. Definitivamente, não é o que se ouve por aí, atualmente! Parece que estamos desaprendendo a ouvir... *Adilson Luiz Gonçalves é mestre em educação, escritor, engenheiro e professor universitário. ...


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