O Natal e o fim do mundo
*Por Sandro Paio
Apesar de o fato ter deixado de ser apenas mais um factóide, mais uma notícia sensacionalista usada de forma especulativa, para se transformar num grande espetáculo midiático, a grande verdade é que, resguardadas as devidas proporções, bem como a maneira pessoal e peculiar de cada um encarar os fatos cotidianos, a verdade a que chegamos é que, de uma forma ou de outra, o ?fim do mundo? sempre chega para todas as pessoas.
Longe de querer dar uma de profeta ou se arriscar com piadas infames sobre o tema, quero afirmar é que, quando nos referimos a um ?fim do mundo?, queremos, de fato, classificá-la como uma expressão capaz de apontar que alguma ?coisa, ciclo ou etapa? esteja realmente se encerrando. Dito isto, baseando-se neste princípio não há como negar que isto (o fim do mundo) vem acontecendo todos os dias. É lógico que nem todos são obrigados a concordar, a diferença é apenas a maneira de cada um enxergar o que acontece no mundo à sua volta.
Em minha ótica, o ?fim do mundo? pode ter um caráter inteiramente pessoal, caso nos refiramos apenas àquelas pessoas que deixam a existência terrena. Afinal, é uma questão de lógica: para a pessoa que inesperadamente deixa esta vida, a morte é o fim do mundo. Sendo assim, todos os dias o mundo acaba para um grande número de pessoas.
Mas nãoé só isso. Podemos ir mais fundo e ver que há vários fins do mundo, e até citar um ?fim de mundo coletivo?, o que ocorre quando há o caso de uma grande tragédia se abater sobre toda uma comunidade, sendo que, como exemplos mais práticos, podemos citar o tsunami ocorrido há alguns anos na Ásia ou o terremoto no Haiti, que deixaram centenas de milhares de vítimas fatais. Ou será que há alguém para contestar que, para milhares de famílias que foram completamente vitimadas naquelas, ou até mesmo em outras catástrofes, aquilo lá realmente foi o fim do mundo. Sem esquecer que os cenários dantescos que pudemos acompanhar pelas imagens das televisões eram realmente de um terror apocalíptico...
Há ainda a versão de um ?fim do mundo? mais psicológico, que é aquele que se abate sobre uma família ou comunidade que tenha sido atingida por uma tragédia arbitrada por seres de sua própria espécie. Afinal, como podemos nos referir a casos como os verificados nos Estados Unidos nos últimos tempos, como aquele em 2001, quando milhares de pessoas morreram num atentado terrorista em Nova York, perpetrado por radicais religiosos, afetando diretamente não apenas toda a nação, mas todo o mundo. Foi sim, o fim do mundo, e o início de um novo e muito conturbado e inseguro jeito de viver.
E o que dizer, de algo, como o que aconteceu agora, muito mais recentemente, ainda também nos Estados Unidos, quando 26 pessoas, a grande maioria de crianças entre 4 e 5 anos de idade, foram mortas, em uma escola infantil, de forma cruel e covarde, por um semelhante completamente insano. É ou não é o fim de um mundo inocente? Como estas famílias irão ver este fato se não como o próprio fim do mundo???
Quando toco neste tema, não é para provocar debates nem celeumas, mas apenas para lembrar que estamos a poucos dias do Natal (uma data que representa o fim de um mundo e o começo de outro), e pedir para as pessoas que estão no conforto de suas casas, de suas empresas, e que ainda não viram, nem conheceram o seu ?fim do mundo?, para que reflitam um pouco, e pensem nas pessoas menos afortunadas, e façam alguma coisa para tornar o mundo delas um pouco mais acolhedor.
* Sandro Paio é apenas um sobrevivente de todas as profecias de fim do mundo que aconteceram nos 50 anos.
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