O Calendário
*Por Mario Eugenio Saturno
Quando eu era criança, final dos anos 60, a mudança de ano despertava reflexões, pensava no tempo, no infinito, em Deus. Nunca consegui dormir cedo, mas meus pais estabeleciam às 22h como horário para criança dormir. Assim, refletir por horas era atividade diária. Ganhamos um calendário de 1972, creio que de algum distribuidor de combustíveis, cada mês tinha uma ilustração de um possível futuro, plantações no fundo mar, maquinas automáticas para criar e asfaltar estradas, coisas assim.
Imaginava um futuro tão distante que até a folhinha teria que ser maior para comportar tantos números... Bem, o futuro somente o futuro dirá, o que temos agora é o resultado de muitas criações e mudanças... melhor, ajustes. O nosso calendário atual é o gregoriano, assim chamado em razão do Papa Gregório XIII (1502-1585) e que entrou em vigência em 24 de Fevereiro de 1582, substituindo o calendário juliano que fora implantado por Júlio César (100 a.C.- 44 a.C.) em 46 a.C..
O calendário Juliano tem suas origens no calendário estabelecido por Rômulo, que tinha 10 meses que totalizavam 304 dias. Depois, foi alterado para luni-solar, com doze meses que totalizavam 355 dias. Para manter o calendário alinhado com o ano solar, era adicionado um mês extra, ?mensis intercalaris?, a cada dois anos.
Quando, em 46 a.C., as festas romanas da primavera caíam em pleno Inverno, Júlio César resolveu corrigir o erro, acrescentando dois novos meses, Unodecembris e Duocembris. Os dias dos meses foram fixados numa sequência de 31 e 30, à exceção de Februarius, que ficou com 29 dias, mas que, a cada três anos, teria 30 dias. Criou o ano bissexto, de 366 dias que deveria ocorrer de três em três anos. Em 44 a.C., Júlio César foi homenageado pelo senado, que mudou o nome do mês Quintilis para Julius. Depois o senado homenagear seu imperador mudando o mês Sextilis para Augustus, aumentando para 31 dias, sendo que Februarius passou de 29 para 28 dias
O calendário juliano já acumulara um erro de dez dias na época do Papa Gregório XIII, que resolver corrigi-lo. Após cinco anos de estudos, determinaram que o dia seguinte à quinta-feira, 4 de outubro, fosse sexta- feira, 15 de Outubro de 1582. Para corrigir o erro existente, determinaram que nos anos seculares só são bissextos se forem divisíveis por 400. Desta forma o atraso de três dias para cada quatrocentos anos do calendário juliano deixou de existir.
Uma coisa que o calendário gregoriano não fez foi corrigir a numeração dos anos, que sabemos estar errada. Colocamos o ano de 2013, Ano do Senhor ou depois de Cristo. A convenção seria que ano um é o ano do nascimento de Cristo. Esta missão (e erro) coube a Dionísio Exíguo, ou Menor. Dionísio (470-544), nascido na Cítia Menor, hoje Dobruja, Romênia, foi um monge do século VI, versado em matemática e em astronomia. Foi ele quem introduziu o termo Anno Domini, o ano do Senhor. Atribui-se-lhe a tradução do grego para o latim de 401 cânones eclesiásticos, \além de uma colecção de decretos papais desde Sirício até ao papa Anastácio II.
*Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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