O fenômeno papal
*Por Mario Eugenio Saturno
É inegável a incrível fase positiva que a Igreja Católica está vivendo. Depois de tantos séculos de perseguição, vivemos uma quaresma de extrema alegria. Não podemos ignorar que a escolha de um polonês que se chamou João Paulo II foi um fenômeno positivo para a Igreja. Um Papa humilde que ousou pedir perdão pelos ?erros? da Igreja. E foram muitos...
Bento 16, convenhamos, é um gênio da teologia, colocou muito ?estudioso? no canto da sala (quando isso era possível, era o lugar destinado aos mais lerdinhos...). Sua sapiência, na verdade, era confundida com certa arrogância. Afinal, era ele o ?censor?... Dureza este cargo! Foi escolhido, certamente, para preencher o enorme vazio que João Paulo deixara. Novamente, que sina! Mas reconheçamos, cumpriu sua missão divina com louvou.
O Papa Bento, ao anunciar sua renúncia, criou um fato extraordinário de fazer inveja ao político mais experiente. Surpreendeu a todos, talvez até mesmo os católicos mais devotos e não é para menos já que a última vez que isso ocorreu foi há 598 anos.
Enquanto a imprensa dividia-se entre boas e más noticias, o centro era a Igreja e sua missão de levar a ?boa mensagem? (eu aggelion). Reuniu-se o Conclave para escolher o papa, apareceram os favoritos que mais uma vez nenhum foi confirmado. Escolheram em pouco tempo um novo papa, que era o sonho de todos os católicos, um bispo que não era europeu.
Melhor ainda, um servo de Deus da América. Não foi dos Estados Unidos, nem do Brasil, nações católicas mais importantes, mas veio da Argentina, ou como o próprio papa designou, ?do fim do mundo?.
Em sua primeira aparição, foi apresentado seu nome, Francisco. Um nome cheio de significados. A Igreja tem três santos com esse nome, o mais famoso, claro, Francisco de Assis. O que mais poderia querer invocar o Papa Francisco, diante de uma Igreja em ?crise?? O mesmo que foi dito em Assis: reconstroi a minha Igreja. Se na Idade Média o poder e as riquezas era o que importava, Francisco foi exemplo vivo do que importa realmente para Jesus.
E, agora, o novo Papa incorpora o ?espírito? de São Francisco e esquiva-se da roupa luxuosa, do trono luxuoso, da limusine (já imaginou o Papa pegando o mesmo ônibus que você?), pedindo oração antes de dar bênçãos, et cetera. Começou muito bem!
Não podemos esquecer que esse Papa é jesuíta. E quem são os jesuítas? A Ordem mais disciplinada e obediente ao Papa. Acompanhou portugueses e espanhóis na ?conquista? das Américas, estiveram presentes na fundação de São Paulo, nas Missões do Sul transformaram índios guaranis em fabricantes de instrumentos musicais e esculturas magníficas, retratadas no filme ?A Missão?. A Congregação Mariana, instituição leiga a que pertenço, a mais antiga na Igreja, também foi fundada por Jesuítas.
Papa Francisco, tal como o Santo, vem nos lembrar que a Igreja (ekklesia) significa comunidade, assembleia, mostrando que é formada por todos nós e não somente pelo clero. Papa Bento 16, o último Conclave e o Papa Francisco atraíram a imprensa e os bons augúrios, criaram as perfeitas condições para a evangelização dos escravizados pelas drogas, pelo sexo, pelo dinheiro, pelo poder. Agora é a sua vez de agir, viver e ser exemplo de um cristianismo autêntico e real.
*Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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