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VIDAS DESERTAS
*Por Adilson Luiz Gonçalves Recebi um e-mail que conta uma história mais ou menos assim: O camelinho perguntou para a mãe, porque eles tinham aquelas corcovas. A mãe explicou que elas serviam para armazenar proteína, para alimentá-los durante as longas caminhadas no deserto. Como a curiosidade infantil não tem limites, o filhote questionou, agora, o motivo das patas serem largas. Pacientemente, a mãe explicou que era para melhorar o apoio no solo arenoso do deserto, impedindo que os camelos ficassem presos ou escorregassem. Não satisfeito, o jovem quis saber a razão dos cílios deles serem tão compridos. Mais uma vez, ela justificou que os cílios protegiam do sol causticante do deserto. Depois de todas estas explicações maternas sobre o quão bem ?equipados? para longas jornadas os de sua espécie eram, o camelinho fez sua derradeira pergunta: ?Então, para que serve tudo isso aqui, nesse Zoológico??. Não é assim com os seres humanos, às vezes? Temos muitas habilidades e, sobretudo, capacidade para pensar. Porém, somos confinados dentro dos limites que outros nos impõem, desde a infância, por interesse ou ignorância, que impedem que nos expressemos ou, no limite, sequer admitem que pensemos. É assim que seres humanos dominam seus semelhantes: para ?brilharem? consomem os que assombram! E mesmo os que alegam "nobres" e, até, "divinos" ideais, às vezes só querem reinar ou prevalecer física, financeira ou espiritualmente sobre o semelhante, que consideram semelhante apenas no aspecto, pois, já que começamos falando de camelos, lembrando a "Revolução dos Bichos", obra-prima de Orwell, eles são sempre "mais iguais que os outros". Mas, também há os que criam esses limites para protegerem os que amam de males que já os afligiram. Uns tentam esconder as mazelas do mundo; outros, amedrontam, criam tabus ou preconceitos; patrulham e inibem qualquer tipo de questionamento à sua autoridade que, ora é protetora, afável, ora é dominadora, dona da verdade. Também há os que, simplesmente, mentem, sem medirem a consequência de suas mentiras na vida dos outros que, em sua falta, podem virar naus sem rumo, de extremamente protegidas à perigosamente vulneráveis; oásis em meio a extensos desertos: vidas desertas! Onde fica o livre-arbítrio nesse contexto? Ou a formação de caráter? Ou a autonomia intelectual? E ainda há os que travam as pessoas de todos os modos possíveis, garantindo, do alto de seus tronos, que não proíbem nada... Um ser humano tem muito de seus antepassados. Tradições de várias espécies, hábitos adquiridos pelo convívio, no entanto, ele somente será um indivíduo pleno pelo exercício da racionalidade, pelo pensamento autônomo, pelo diálogo, pelo exercício consciente da tolerância, traduzida no respeito ao próximo. Do contrário, sempre tentará enquadrar as pessoas em jaulas, considerando-as e expondo-as como seres exóticos ao seu "habitat" ideal. Questionar, pensar, ouvir, entender: esses são alguns dos verbos indispensáveis para sairmos desse ?Zoológico? de mediocridade fomentada e controlada. Só assim estaremos aptos e motivados para empreendermos nossa própria e intransferível jornada da vida! *Adilson Luiz Gonçalves é Mestre em Educação, Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor. ...


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