O Argo brasileiro
* Por Mario Eugenio
É de causar espanto à braveza da presidente Dilma contra o diplomata brasileiro que retirou o senador boliviano exilado na embaixada em uma ação cinematográfica. Gostaríamos de ver a presidente e seus diplomatas com essa ferocidade contra Bolívia, Venezuela e Argentina, que destratam e maltratam o nosso país nas relações comerciais e políticas.
O diplomata pode ter sido inspirado pelo filme Argo, que tratou da evacuação de diplomatas estadunidenses escondidos na embaixada do Canadá no Irã. O certo é que ele promoveu a retirada do senador boliviano asilado na embaixada em La Paz. Cabe ressaltar que o senador ficou na embaixada por mais de 450 dias por não receber salvo-conduto, em más condições. E, mais, nem Pinochet, cruel ditador, recusava-se a dar salvo- conduto para asilados.
Mas essa história começou antes, com a eleição de Evo Morales. Na visão turva deste aspirante a ditador, o Brasil trocou o Acre por um cavalo. Não esqueçamos que ele defendeu a revogação da resolução das Nações Unidas que veta a mastigação da folha de coca.
Em 2006, Evo resolveu nacionalizar a exploração de petróleo e gás no país. A Petrobras, que é uma empresa estatal brasileira, representava 15% do PIB daquele país. É preciso lembrar que, desde 1996, investiu-se US$ 1,5 bilhão naquele país e mais US$ 2 bilhões para trazer o gás de lá. A Petrobras não foi somente nacionalizada, mas foi ocupada pelo Exército. Não foram policiais nem burocratas, mas soldados de guerra. Uma clara mensagem ao governo brasileiro. Que fez o que? Nada! Nem reclamar em
foro internacional que tinha direito foi. Lula jogou a toalha. Medo? Indecisão? Incompetência!
O senador boliviano Roger Pinto refugiou-se na Embaixada do Brasil em La Paz em maio do ano passado. Desde então, o senador ficou confinado em uma salinha, sem direito a receber visitas, nem telefonemas. Não era um asilado, mas um prisioneiro. E o diplomata brasileiro, seu carcereiro. É óbvio que o senador entrou em depressão.
Não nos esqueçamos que o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, refugiou-se na embaixada brasileira em 2009 e o período que permaneceu lá não só recebia visitas como coordenava a resistência de dentro da embaixada. E neste imbróglio, doze corintianos foram presos na Bolívia. Pelas evidências, estava claro que era retaliação e chantagem. E com a libertação deles, depois de mais de 150 dias, por falta de provas, ficou mais que confirmado.
O diplomata Eduardo Sabóia não tinha muito o que fazer, assistir um provável suicídio ou esperar que uma comissão diplomática resolvesse a situação. Com os indicativos de que a comissão era para inglês ver, ele tomou uma decisão humana e humanitária. Utilizou dois carros da embaixada, com placas consulares, acompanhando-se de dois fuzileiros navais que fazem a segurança da embaixada, levaram o senador para o
Brasil. Foi uma longa viagem de 22 horas, saindo na sexta-feira (23/8), passando por cinco controles militares, incluindo os da fronteira, até chegar, mil e seiscentos quilômetros depois, no domingo, em Corumbá, Mato Grosso do Sul.
*Mario Eugenio Saturno (cienciacuriosa.blog.com) é Tecnologista Sênior do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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