A alegria de Francisco
*Por Mario Eugenio Saturno
Já abordamos os impactos da Primeira Exortação Apostólica de Papa Francisco, o Evangelii Gaudium, ou ?A Alegria do Evangelho?. Diante de tantos problemas que a Igreja vive, o Papa chama a todos que têm essa alegria, daqueles que se encontram com Jesus. Esses são salvos por Ele, libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria.
O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Não há espaço para os outros, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida.
Convido, diz o Papa, todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de deixar-se encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Pois, da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído. Quem se arrisca, o Senhor não o desilude, e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada.
E o Papa continua, insisto uma vez mais, Deus nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a perdoar setenta vezes sete (Mt 18, 22) dá-nos o exemplo: Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar- nos aos seus braços. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder.
Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. A tentação apresenta-se, frequentemente, sob forma de desculpas e queixas, como se tivesse de haver inúmeras condições para ser possível a alegria. Eis a fonte da ação evangelizadora, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros? O bem tende sempre a comunicar-se. Quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão buscar o bem do outro. Assim, ai de mim, se eu não evangelizar! (1 Cor 9, 16).
Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém, como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo. Quando a Igreja faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos a realização pessoal. Um anúncio renovado proporciona aos crentes, mesmo tíbios ou não praticantes, uma nova alegria na fé e uma fecundidade evangelizadora. Embora esta missão nos exija uma entrega generosa, não é heróica, dado que ela é obra de Deus.
*Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
...