"IN VINO VERITAS!"
*Por Adilson Luiz Gonçalves
"A verdade está no vinho!" é a tradução desta expressão latim, conceito do qual os gregos já tiravam proveito e até Noé, ao consumi-lo em exagero, teria sido vítima. De fato, a ingestão de álcool remove algumas "travas" do comportamento humano, fazendo algumas pessoas revelarem o que realmente são. Não é à toa que algumas religiões proíbem a ingestão de bebidas alcoólicas: matar pode, mas beber, não!
Nem tão recentemente, teve início uma campanha para estender a publicidade feita em maços de cigarro para rótulos de bebidas com álcool. Querem que sejam colocadas fotos de acidentes automobilísticos, suas vítimas. Pensando bem, tem sua lógica, pois, se é verdade que o fumante faz mal a si e aos próximos, também é fato que o consumidor exagerado de álcool pode ultrapassar os limites do bom senso e da civilidade, além de ter seus sentidos prejudicados.
Hoje, fumar em locais proibidos é passível de multa, enquanto dirigir embriagado é considerado crime, sujeito à detenção! Em caso de acidente fatal, então. Independentemente desses casos extremos, os efeitos do álcool sobre o comportamento humano, mesmo antes de chegar ao limite do coma alcoólico ou da dependência química, são visíveis e afetam até quem nada tem a ver com o "borracho". "In vino veritas", transferido para a ingestão exagerada de qualquer bebida alcoólica, pode mostrar vários lados "ocultos" do "pau d'água", ou exacerbar suas piores qualidades. Afinal, se o álcool potencializa o efeito de alguns medicamentos e drogas, também o faz com alguns aspectos do comportamento humano.
Alguns bebem para esquecer e, de fato, esquecem: o respeito ao próximo, a noção de perigo, o respeito a regras, o endereço de casa... Outros, bebem para superar a timidez: cantar ou criar coragem para flertar. Os comedidos podem ter crises de choro e melancolia, ou virarem chatos. Os chatos se superam. Os "engraçadinhos", ficam inconvenientes e, sós ou em grupo, azucrinam a vizinhança. Os violentos e portadores de distúrbios psiquiátricos podem cometer crimes. O pior é que muitos desses indivíduos se vangloriam da resistência de seus fígados, sem perceberem que a parte mais afetada de seu organismo é o cérebro!
Dependendo do gajo, a perda da noção de risco e dos sentidos pode tornar uma piscina um abismo abissal; uma sacada vira um precipício. Quem exagera na bebida talvez creia que ficará duplamente "alto", sem perceber que o mais provável é que rasteje, inclusive moralmente, no limite da dependência! Assim, faz mesmo sentido colocar mensagens nos rótulos das bebidas. Além das mais óbvias, poderia haver outras, algo assim como: "O Ministério da Saúde adverte; beber pode transformá-lo num completo idiota!", ou "O Ministério da Saúde adverte: c... de b... não tem dono!".
Infelizmente, elas não consertarão os defeitos de personalidade que algumas pessoas já exibem, mesmo quando sóbrias. Que ao menos salvem algumas famílias da tristeza de ter um alcoólatra infernizando suas vidas; e a sociedade, das vítimas de motoristas e "pedestres" bêbados, que se vangloriam de "beber bem", mas conviver mal.
*Adilson Luiz Gonçalves é Escritor, Engenheiro e Professor Universitário (UNISANTA).
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