O legado educacional da Copa do Mundo
*Por Elisabete dos Santos Freire
O Esporte é visto por muitos como uma prática que possibilita a educação de nossos jovens. Não nos faltam discursos, frequentemente ingênuos ou mal intencionados, que enfatizam a importância da experiência esportiva na construção de valores morais. Professores ressaltam que aqueles que praticam determinada modalidade esportiva aprendem a perder, ganhar, respeitar os colegas e a entender que não é possível competir sem a presença de um oponente. Uma visão bastante defendida pelo Barão de Coubertin, em sua defesa do olímpismo, por exemplo.
Pautados nessa crença, temos visto surgir vários programas que propõem a utilizar o esporte como instrumento educacional. Ações governamentais são apresentadas e subsidiadas pelo Ministério do Esporte, iniciativas da sociedade civil são vistas a todo momento, sendo a maioria destas propostas por ídolos do esporte nacional através de ONG?s (Organizações Não Governamentais). Diversas ações são patrocinadas por empresas com fins lucrativos que aproveitam para se autopromover.
Mas, qual a contribuição do esporte para a educação das pessoas? Com certeza, o poder de envolvimento presente no esporte faz dele um instrumento de imenso impacto no processo de educação e de socialização. Mas, como nos mostra a experiência e os inúmeros estudos científicos sobre o tema, é preciso compreender que este impacto merece ser analisado criticamente. A educação estará presente na interação entre ídolos do esporte e seus admiradores. Um exemplo é quando um atleta, que se coloca como formador de opinião, dedica-se a construir uma boa imagem pessoal e a apresentar bons exemplos para seus fãs, reconhecendo seu poder de influência na construção de crenças e valores sociais.
Está possibilidade do esporte interferir ou mediar a educação das pessoas torna-se muito evidente no momento vivido pelo Brasil. Temos discutido bastante sobre o legado ou sobre a ausência de tal nesta Copa do Mundo da FIFA. Eu penso que o maior legado será sua influência sobre a construção de uma visão mais crítica sobre o esporte. Vivenciar a construção de um evento esportivo nos fez olhar para o que está nos bastidores dos espetáculos futebolísticos, nos chama a atenção os custos das obras, entendemos que o dinheiro público investido deveria ter sido aplicado em outras prioridades, percebemos, em nosso cotidiano, as alterações impostas aos cidadãos, como alteração na estrutura viária de alguns bairros. Enfim, tornam-se evidente os interesses econômicos e políticos envolvidos na organização do evento.
Nós, educadores, temos em mãos uma grande oportunidade para estimular a construção desta visão crítica, mas para isso não basta discutir apenas algumas características geográficas dos países participantes. Nas aulas de todo o currículo escolar podem ser analisados os aspectos motores, biológicos, econômicos, políticos, históricos, geográficos, filosóficos, sociológicos, culturais, químicos e físicos relacionados à prática do esporte. Compreender o esporte pode ser um caminho para a compreensão da sociedade. Se este for o legado da Copa, sediá-la terá valido a pena!
*Elisabete dos Santos Freire é professora do Curso de Graduação em Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui Licenciatura e Mestrado em Educação Física pela Universidade de São Paulo e Doutorado em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu.
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