Os verdadeiros legados da Copa
*Por Henrique Mol
Muitos têm sido os indicativos de que o saldo da Copa é positivo, e, de fato, por ora, o é. Para falar em números, algumas cifras me vêm em mente. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) acredita que a demanda por voos domésticos deve crescer 5% neste ano sobre 2013. Uma projeção realizada pela BDO indica que a Copa do Mundo renderá à Fifa a maior arrecadação da história: US$ 5 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões). Por se ater demais aos números, entretanto, desvia-se o olhar do que não se pode contabilizar.
à margem de todo o investimento em merchandising que tem sido realizada, a maior exposição global (e a mais frágil, também) se volta à marca Brasil. Os olhos do mundo e dos próprios brasileiros, mais do que nunca, estão voltados a nós. E eles têm constatado os excepcionais estádios, sistema de segurança e logÃstico bem estruturados e aeroportos eficientes, além da inigualável hospitalidade brasileira. No entanto, os analistas apontam que a visibilidade internacional pode ser maculada devido à s manifestações nas ruas. Como regra de bom anfitrião, devemos aprender que problema de casa se resolve em casa, não escancarado à s visitas.
Os legados da Copa para o setor do turismo são palpáveis. Nas grandes capitais, a exemplo de São Paulo, onde a capacidade dos aeroportos já estava saturada, os investimentos realizados trará menos atrasos e maior oferta de voos, além de maior capacitação dos funcionários que estiveram engajados à Copa, para atender ao maior fluxo de turistas durante e após o evento. Um quadro providencial, dada as projeções que mostram que em 2017, seremos o terceiro mercado aéreo do mundo, segundo o Ministro do Turismo, VinÃcius Lages.
Nesse setor, a Gol contará com a vantagem de ter se tornado a patrocinadora oficial da seleção brasileira de futebol, no lugar da TAM, e se beneficiará da exposição da marca. O fluxo turÃstico, não só à s cidades sedes, ocasionará uma entrada significativa de divisas aos setores de hotelaria, transporte, comunicação, cultura, lazer e comércio varejista. Um cenário que assume moldes de causação cumulativa, com impactos diretos e indiretos, como por exemplo, a geração de empregos permanentes e temporários, injetando bilhões em consumo e aumento do comércio e prestação de serviços.
Além do impacto econômico, é preciso considerar o legado social, consubstanciado no efeito feel good, que uma Copa do Mundo bem projetada pode gerar. Sediar um evento de tais dimensões e ovacionado pela mÃdia internacional, aumenta a autoestima e orgulho de um povo que se acostumou a um ?complexo de vira-lata?, termo cunhado pelo dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues para designar a postura de inferioridade assumida no futebol a partir de 1950, quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai, no Maracanã. Para Rodrigues, o brasileiro só começou a se curar desse complexo em 1958, quando ganhou a Copa pela primeira vez, mas apenas nesse esporte. A postura permaneceu em relação a outros temas. Por "complexo de vira-lata", entendeu-se a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.
Acredito que isto aumentará o interesse do povo brasileiro por conhecer o próprio paÃs, não só restrito à s cidades sedes, embora estas, pela maior visibilidade ocasionada pela Copa do Mundo, tenham maior atração. Isso dependerá da capacidade das demais cidades em divulgar as suas festividades tÃpicas e eventos culturais,além de criar tours que direcionem os turistas à s suas cidades, respaldados por pessoal capacitado, boa infraestrutura hoteleira e de transporte. Quanto mais soubermos promover a marca Brasil, menos terão sido os ônus das obras da Copa. Ganham brasileiros, ganham turistas e ganha o Brasil no reconhecimento de uma marca cujas credenciais de belezas naturais, povo acolhedor e clima agradável não se encontrará em outra parte.
*Henrique Mol é especialista em turismo e sócio-fundador da Encontre Sua Viagem, franquia de turismo.
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