Eduardo Campos. As utopias não deveriam morrer
*Por Amadeu Garrido
As utopias moram na casa da literatura. Não habitam a política e tampouco as ciências. Os exemplos das utopias estão encadernados nas bibliotecas das universidades. Para leitura dos primeiranistas. Nos anos subsequentes eles caem na real. Enfrentarão os mercados, os dilemas das empresas, da administração pública, da organização social, da educação, da justiça. As utopias são esquecidas. Morrem na arremetida do materialismo grosseiro.
Sir Thomas Mórus, Tomazzo Campanella apenas ornamentam os santuários acadêmicos. Visionários, ignoraram o realismo, as doutrinas havidas como científicas. Projetaram seus sonhos, não seus estudos. Sonhos irrelevantes, como todos os sonhos, dizem os céticos cobertos de títulos. Esquecem-se de que o mundo é um sonho. Fez-se espontaneamente. As ações e combinações dos elétrons até hoje não têm explicação exauriente da física. A biologia ainda vive de segredos evolucionistas. Fatos inesperados mudam os destinos das sociedades. Está fora de moda o desenvolvimento predestinado, por capítulos históricos, fundados nos modos de produção, como filosofou Marx.O inesperado, a superestrutura sem estrutura, não raro, bate às portas de projetos longamente discutidos. E os pulveriza.
O Brasil da nova República, em síntese, foi assentado numa arquitetura binária. A social-democracia universal se dez duas. De um lado, um partido de quadros, de intelectuais, propensos a transformar o país aplicando suas ideias luminosas. Em parte acertaram, em outra o elitismo, o distanciamento das grandes massas populares, dos sindicatos, das associações, das forças vivas da nação, cobrou-lhes um alto preço. Assim, ainda procura manter-se à tona o PSDB, com as inevitáveis correção de percurso. De outro lado, um partido de massas, com pontuais preocupações teóricas. O que vale é o voto colhido no chão das fábricas e das ruas. Quanto mais, melhor, pouco importa o caminho. Um povo passivo, de vida privada, repentinamente descobriu o espaço do condor. Pouco importavam suas proposituras, seus conhecimentos de governo para conduzir um país como o Brasil.
Os aderentes a esse modelo condenatório das "zelites" consideraram-se apartados do mundinho cotidiano e trivial, no qual todos se debatem hoje para comer amanhã. Tornaram-se anjos, donos absolutos da verdade pouco trabalhada, porém indiscutível.
Sua fragilidade téorica e ética - não obstante sempre propagadas - vieram à tona no poder, como um tsunami. A exemplo de outros partidos originários do trabalhismo, o PT se descaracterizou, seus líderes e governantes perderam-se na inanidade do conhecimento político e chafurdaram-se na lama. Suas contradições internas, envernizadas por teorias políticas formuladas no passado por teóricos e filósofos equivocados, impediram que a agremiação se concentrasse numa utopia simples, capaz de transformar o Brasil.
Nestas eleições, tínhamos a opção de um terceira via, capaz de romper essa leniência de duas conhecidas políticas antípodas, enferrujadas, vítimas de fadiga de material. Eduardo Campos começou sua aparição pública de modo prometedor. Não erravam os que previam um arranque do candidato, investido de qualidades necessárias a um governante de que o Brasil é carente. Não à toa começou a subir nas pesquisas. Sua utopia poderia transformar-se numa experiência real no processo de mutações políticas. O bom e o mal poderiam vir à tona. Ninguém tem bola de cristal, mas todos têm capacidade de experimentar. Por essas, cruéis - ante o enexcrutável da vida - tragédias , o candidato, jovem, carismático, capaz, sem dúvida carregou à eternidade a utopia brasileira do início do século XI. Uma utopia que não ficará nas bibliotecas acadêmicas, mas na consciências de todos e sobretudo dos jovens que transformarão o Brasil: os nascidos após 1964. Por mais que seja íngrime a montanha, o homem sempre construiu sua história.
* Amadeu Garrido de Paula é advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho.
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