FALSOS AMIGOS
*Por Adilson Luiz
Você, que tem algum vício - mesmo que não o reconheça como tal e diga que é um ?prazer? ou que pode largá-lo quando quiser -, responda: Quando e como entrou nessa?
Considerando os casos que conheço - alguns de desfecho trágico -, a maioria começou na adolescência, quando o organismo está em fase de transformação e ficamos particularmente sensíveis e vulneráveis, pois a transição é física, química e psicológica.
O jovem busca sua identidade e ?independência?. Quer ter sua opinião, mesmo que seja a de terceiros; se apega a ídolos; e, no convívio com outros jovens ou sob influência de adultos tende a questionar os valores de sua formação. Quer mudar o mundo!
Isso faz parte da consolidação do caráter, para o bem ou para o mal; e cabe ao jovem, com apoio e compreensão familiar, superar as pressões que ocorrem nesse período, que incluem assédio moral, com segundas e terceiras intenções.
É nessa fase que, para ser ?popular?, ingressar numa ?tribo?, não sofrer ?bullying?, em suma, ser ?aceito? no meio social em que vive, o jovem ?baixa a guarda?. Também é nesse tempo que a comparação de experiências e as paixões o deixam ?balançado?, rebelde e facilmente aliciável por ?cantos de sereia?, potencial massa de manobra do oportunismo político ou religioso, modismos e vícios, principalmente álcool e fumo.
?Você não é homem??; ?Faz beijar melhor!?; ?Faz parecer adulto!?. Todos já devem ter ouvido algum desses ?argumentos?, não?
Antes permitida, a publicidade de cigarros associava o vício a aventura, sofisticação, liberdade, beleza e poder. Porém, quase todos começaram a fumar porque um ?amigo? ou parente lhe ofereceu, na adolescência: propaganda ?boca a boca?. A publicidade do álcool, ainda permitida, evoca conteúdo basicamente sexual, associando a bebida a prazer e alegria. Mas, mesmo sem ela, os ?esquentas? estão por aí, dando ?coragem? para ?pegar? alguém nas baladas da vida.
O Ministério da Saúde adverte para fazer isso ou aquilo ?com moderação?. No entanto, depois que vira vício é só despesa e, principalmente, tristeza que se multiplica!
De fato, é uma questão de saúde! Porém, a razão perde espaço para o modismo, como foi o caso do uso do ?narguilé? que, segundo especialistas, é 100 vezes pior do que o cigarro. Ficou comum ver jovens desfilando com aquela tranqueira pelas ruas. Esses pretensos ?ritos de passagem? estão presentes no processo de amadurecimento. E são muitas as tentações. Mas não é preciso provar para saber o mal que fazem! A verdadeira coragem está em não ser mais um a se deixar levar pelas aparências.
Basta pensar um pouco para notar que é sempre um ?amigo? quem faz a iniciação ao vício. E alega que é ?natural?, ?medicinal?, ?abre a mente?, ?liberta?; e que coisas consideradas legais são muito piores. Constrange. Ironiza. Aí, por curiosidade ou para não ser ?zoado?, o cara experimenta... Dá um ?tapinha? e fica ?legal?. Na vez seguinte, o ?amigo? vai oferecer novamente, preferencialmente com o cara ?mamado?. Mais adiante, ele não precisa mais oferecer: o cara pede! Em seguida, quer comprar e nem nota que o ?amigo? também vende o ?bagulho? e outros ?baratos?. Porém, nessa ?viagem?, o ?sem noção? já não percebe mais nada. Só quer mais.
Isso acontece em escolas, universidades, clubes e até nos lugares menos prováveis. Pois é... O vício precisa de companhia, mas não é solidário e quem oferece os muitos ópios que existem por aí, ou querem compartilhar suas fraquezas, ou novos clientes. Entrar é fácil. Vários ?amigos sangue bom?, cheios de ?papo reto? e discurso ?engajado?, estão aí para ajudar. O problema é sair do fundo do poço e, com certeza, esse ?amigo? não estará por perto para ajudar. Quem sabe apareça para vender um ?tapinha medicinal da hora?, cobrar a ?conta? ou orar: ?do pó viestes e ao pó voltarás?.
*Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e professor universitário....