Homofobia, a urgência da criminalização
*Por Breno Rosostolato
Em um discurso eloquente e frustrado, o candidato à presidência Levy Fidelix (PRTB) distribuiu insultos, esbravejou e revelou uma faceta ainda desconhecida pela maioria da sociedade brasileira que o enxergava de maneira caricata e engraçada. Uma agressividade demasiada e posicionamentos preconceituosos. Dia 28/09, as declarações do candidato foram além de propostas políticas. Demonstrou o verso do político, o outro lado de um homem truculento, que fez de palavras violentas, sua munição, descarregada nos homossexuais. Questionado pela também candidata Luciana Genro sobre direitos homoafetivos, Levy vomita opiniões enfadonhas e absurdas. Compara os homossexuais à pedofilia, diz que ?dois iguais não fazem filho' e que ?aparelho excretor não reproduz'.
Não satisfeito, segue desferindo seu ódio. Conclamou: ?Vamos ter coragem! Nós somos maioria! Vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los'. Considera a homossexualidade uma doença e que as pessoas se tratem ?bem longe daqui?. Termina afirmando que se o casamento igualitário for apoiado, isso reduziria a população brasileira de 200 para 100 milhões de pessoas. Detalhe, a cada impropério a plateia ria como num stand-up. Não me surpreende os risos, porque acredito que muitas pessoas concordem com as opiniões de Fidelix. Tanto é verdade que nas redes sociais muitas pessoas elogiavam a postura do candidato por ter falado aquilo que muitos pensam e não tem coragem de dizer. Mas falar estas sandices não é ser sincero, é ser violento e propagar o ódio.
Que sinceridade é essa que machuca, desqualifica, flagela e fustiga? De fato, muitos pensam assim e baseado no que fica nas entrelinhas torna-se convicção quando estimulada através da ira. A convocação foi realizada como que para uma guerra, cuja segregação social reside na concepção equivocada da maioria e da minoria. E os frutos surgiram no dia seguinte em que a semente de enfrentamento aos gays ter sido lançada. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) recebeu ameaças de morte em um dos comentários na web da Folha de SP, numa evidente referência à apelação de Fidelix. Não é a primeira vez que o deputado é ameaçado de morte por ser homossexual e pela postura de defensor aos direitos LGBT.
São comportamentos agressivos assim que nos remetem à história e novamente presenciamos o nascimento da violência por meio da massificação, através de discursos tiranos e déspotas, que naturaliza o ódio e incita a selvajaria. No século 12, na Idade Média, desenvolveu-se uma política rigorosa para lidar com a homossexualidade como o Concílio de Nablus, que estabelecia que os adultos sodomitas, classificação dada à homossexualidade na época, seriam queimados, pois tais práticas eram consideradas criminosas. Um menino gay de 19 anos foi sequestrado, torturado e queimado vivo durante um "ritual de purificação" em Betim, Minas Gerais. Foi encontrada em seu bolso uma carta que sugeria uma ?limpeza? na cidade para aqueles que declarassem seu ?amor bestial?.
Os depoimentos de Levy Fidelix, como candidato à presidência, requerem responsabilidade, ponderação e zelo. Político e figura pública, logo, formador de opinião, deveria ser responsabilizado por este comportamento homofóbico. Retrocedemos aos momentos obscuros e sanguinários de nossa história. Por isso a urgência em se criminalizar a homofobia. Em um país sério o candidato sairia preso do debate. Espera-se que o governo reaja para um problema que está mais que escancarado. Não existem assassinatos à heterossexuais por causa de sua orientação sexual, mas matam homossexuais por assumirem a sua. Fato é que a maioria dos heterossexuais não concordam com estas declarações estapafúrdias de Levy. Uma minoria é composta por ditadores da maledicência, fascistas contemporâneos que fomentam a opressão e sujeitam os outros a odiarem como eles.
Lembro ainda que Levy metralhou os gays com outra frase: ?Dois iguais não fazem filhos?. Vi uma frase no twitter que responde perfeitamente esta afirmação. ?Dois iguais não fazem filhos, mas adotam o que dois diferentes abandonaram?. Por isso, a importância de se criminalizar a homofobia, pois assim combatemos a mediocridade. Devemos praticar a tolerância, reconhecer a diversidade, conquistar a liberdade sexual e assegurar direitos.
* Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina ? FASM.
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