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ARTIGO
Obrigado, Dona Camata!

Data da notícia: 2014-11-18 19:06:07
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*Por Sandro Paio

Ji-Paraná perdeu, neste fim de semana, uma pessoa mais do que especial e que, mais do que o espírito guerreiro que seus amigos conheciam, tem uma história das mais lindas que se possa imaginar, mas que quase ninguém conhece. Tive o privilégio de conviver com Maria José Pereira Camata, a Dona Camata, como foi conhecida por milhares de pessoas, e conhecer grande parte das histórias, que ela nunca quis que ninguém soubesse. Zezé, como era chamada carinhosamente pela família, entrou em minha vida, de forma avassaladora, no início do ano de 1980. Já era amigo do Camata antes de conhecê-la, e passei a fazer parte definitiva da vida deles, em 1982, quando me casei com a minha doce Nina, sua filha.

Não vou aqui falar de nossa vida em família, uma família grande e numerosa, como toda família descendente de italianos, já que teríamos assuntos não para um livro apenas, mas para vários. Não vou falar de coisas tristes, nem dizer palavras apenas para emocionar, porque ela não gostava disso. Ela era, a seu jeito, uma pessoa alegre e de alto astral, sempre com uma palavra de apoio, amor e carinho para todos, para qualquer pessoa. Vou contar aqui, apenas um pouco das coisas que acredito Ji-Paraná precisa saber sobre esta mulher, que sempre pensou muito mais nos outros do que em si mesma, tanto e de tal forma que, ao lado de seu caixão, quando de sua despedida final, perguntados pelo padre, sobre o que ela nos deixara para lembrar, a primeira coisa de que todos lembramos foi a sua caridade, seguida pelo seu amor ao próximo. E essa é a nossa verdade, assim era a Dona Camata.

Em que pese, nos últimos anos, por causa da gravidade de sua doença, ela ser obrigada a viver praticamente reclusa, Dona Camata foi sempre uma ativista social, que no início dos anos 80, participou ativamente da criação de atividades sociais e culturais, tendo sido a primeira pessoa a realizar o Concurso Miss Ji-Paraná, a realizar os primeiros festejos com decoração artística da cidade, como o baile à fantasia, baile do Havaí, entre outros. Exímia artesã, ainda na época do prefeito Assis Canuto, deu a ideia e liderou a realização da primeira feira de artesanato da cidade, a Feira Hippie, realizada por muitos anos.

Mas não é sobre essa Zezé, mulher forte e poderosa, que foi primeira-dama da cidade, empresária, organizadora de festas movimentadíssimas, artesã de talento reconhecido, que recebia pessoalmente em sua casa não apenas toda a nata da sociedade, mas também um sem número de políticos, como quase todos os governadores do Estado, deputados, senadores, prefeitos, juízes, e que, sem distinção, era conhecida e admirada por muitos, de quem eu quero falar. Este texto é sobre a Dona Camata, a mulher caridosa que eu conheci e que nunca deixou de defender os mais fracos e distribuir amor ao próximo. É sobre a Dona Camata, que eu vi, nem sei durante quanto tempo, ter o trabalho de, diariamente, preparar e distribuir pães para crianças famintas que vinham ao portão de sua casa. A Dona Camata que, todo mês, distribuía nem sei quantas cestas básicas para inúmeras famílias carentes. A Dona Camata que eu vi tirar produtos da cesta de compras de sua própria família para entregar a pessoas que ela achava mais necessitadas que ela. A Dona Camata capaz de pegar os brinquedos que seus filhos ganhavam e entregar para crianças que não ganharam nada.

Quero falar sobre a Dona Camata, que, mesmo depois de ter sido agredida covardemente por um marginal que lhe atacou e feriu durante uma simples caminhada matinal, deixando-lhe com sequelas no braço pro resto da vida, foi capaz de pedir à família para perdoá-lo por aquele ato, pois ela já o tinha perdoado. Quero falar sobre a Dona Camata, que nunca deixou de abrigar quem dela precisasse, sempre abrindo sua casa e sua família para atender quem precisasse dela. Quero falar sobre a Dona Camata, que nunca gostava de pedir nada para ela a quem quer que fosse, mas que não pensava duas vezes em brigar com quer que fosse, por quem precisava de ajuda.

Como esquecer a Dona Camata, capaz de ter uma conta na farmácia, só para poder pegar remédios para quem não tinha dinheiro para comprar. Como esquecer a Dona Camata, capaz de tirar de sua carteira o pouco dinheiro que tinha para comprar pão, e juntar com o que ela ainda ia pedir para outras pessoas, para conseguir comprar passagem para pessoas pobres que ela nem sequer conhecia, mas que precisavam de tratamento de saúde em outras cidades. Como esquecer a Dona Camata, capaz de tirar peças de roupa de seu próprio guarda-roupa e dar a alguém que ela sabia não tinha o que vestir. Com esquecer a Dona Camata, que nunca conseguiu deixar de atender qualquer uma daquelas dezenas de senhorinhas idosas, que vinham à sua porta, para lhe implorar por coisas de quase todos os tipos, de alimentos e bens materiais a conselhos, orações, e até força, e às quais ela nunca deixou de atender, sempre com um sorriso sincero e uma palavra de conforto..

Essa é a Dona Camata que eu quero que os outros saibam que existiu, que vivia pertinho de todos, sempre fazendo o bem e distribuindo amor, que nos deu lições de humildade, força e coragem. Essa é a Dona Camata que, nós, a sua família, aprendemos a amar e a respeitar, mas que ela nunca quis que os outros, soubessem. Por isso, por tudo o que ela fez, por tudo o que ela nos deixou, por tudo o que ela ensinou, eu gostaria que Ji-Paraná também pudesse, juntamente conosco, dizer: Obrigado, Dona Camata!

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