Recuperar nascentes
*Por Mario Eugenio Saturno
A ?presidenta? da República deveria dar uma grande missão ao Ministério do Meio Ambiente: mapear todas as nascentes e fontes de água e recuperá-las e protegê-las com matas e ensinando consciência às populações locais. Um programa que custará até um bilhão de reais para recuperar mais de um milhão de nascedouros, mas que certamente salvará o futuro do Brasil, o futuro de nossos filhos e netos.
Não é um programa que exigirá muito planejamento, é algo que deve ser construído nas três esferas de poder, governo federal, estadual e municipal. A execução é no local com assessoria federal ou estadual, cientistas que já estão alocados em universidades e institutos de pesquisa. A recuperação das matas nos nascedouros e das matas ciliares ao longo dos rios é um projeto mais que republicano, haja vista a crise que hoje enfrentamos. E não é um projeto novo, diversas ações estão acontecendo nos estados, talvez a inovação esteja em agir a partir de um plano nacional.
No Paraná, por exemplo, o projeto Água Viva, da cooperativa Coopavel com apoio da Syngenta, completou dez anos e recuperou oito mil nascentes em 70 municípios. Para os próximos dez anos, o programa, que criou um método simples de revitalizar fontes naturais de água em propriedades rurais, será expandido, tendo como meta recuperar 1,5 mil nascentes por ano.
Sua ação é simples, os agentes do Água Viva orientam o proprietário a limpar a cavidade natural da terra e a construir uma mureta, com cimento, para reservar um pouco de água logo na saída da fonte. Essa mureta é atravessada por dois ou três canos, equipados ou com torneiras. Ou seja, o atoleiro vira um tanque de água limpa. Então, em torno da nascente, com mais de 50 metros, a vegetação precisa ser preservada. O lote é inscrito como APP, área de preservação.
Para recuperar uma nascente, gasta-se entre R$ 500 e R$ 1 mil. O projeto Água Viva arca com parte desses custos. No Brasil ainda não existe nenhum tipo de remuneração para os produtores por serviços ambientais, a preservação de nascentes é uma obrigação dos proprietários dos imóveis. Algo a ser mudado, senhores e senhoras deputados e senadores. De qualquer forma, os produtores rurais são beneficiados pela abundância de água, pois valoriza a propriedade rural, aumenta a produtividade de aves, suínos e bovinos, além de beneficiar algumas cidades como o município de Rio Bonito que é citado como exemplo de caso em que a preservação das nascentes ajudou no abastecimento urbano.
Porém, tudo isso será em vão se não zerar o desmatamento da Amazônia. Que também sofreu por causa da agenda eleitoral. O governo escondeu o desmatamento. O INPE detectou um desmatamento de 890,2 km² em agosto, um aumento de 208% sobre 2013. Em setembro foram 736 km², 66% maior que setembro do ano passado. Está na hora do governo federal ter vergonha na cara e fazer alguma coisa urgente para recuperação das matas nativas e na proteção da Floresta Amazônica, do Cerrado, Semi-Árido, Floresta Atlântica... Ao que parece, é uma excelente oportunidade para exercitar a integração nacional e a criação de novos negócios no campo.
*Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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