As Epístolas de São Paulo
*Por Mario Eugenio Saturno
A Palavra de Deus é um item que todo mundo deve ter, certo? De que serve uma Bíblia para alguém que não sabe ler? Primeiro é preciso saber ler e, mais importante, entender as palavras. Muita gente sabe ler, mas não entende, são os analfabetos funcionais. Portanto, amar a Deus e querer divulgar sua palavra é, antes de tudo, ser favorável à alfabetização de adultos. Algo preocupante no Brasil de hoje, cujo número voltou a crescer.
E, considerando que poucos entendem o Hebraico e Grego Bíblicos, é preciso também ter uma Bíblia de qualidade, que explique suas opções de tradução e explique o contexto histórico e cultural que cada livro foi escrito. Uma das melhores é a Bíblia de Jerusalém.
De todos os autores do Novo Testamento, São Paulo é o mais eloquente, suas palavras esclarecem com racionalidade e, ao mesmo tempo, tocam o coração. Além de suas Epístolas (cartas), ainda temos os Atos dos Apóstolos que conta em detalhes sua história. E com citações que precisam a datação, como o proconsulado de Galião (At 18,12) e a troca do governador Félix por Pórcio Festo (At 24, 27).
As Epístolas nos revelam a personalidade surpreendente de Paulo. Encontramos um Paulo apaixonado e idealista, cujo ideal é essencialmente religioso. Ele vê Deus em tudo e o serve com uma lealdade absoluta, primeiro perseguindo os cristãos, a quem via como hereges (1 Tim 1,13), depois pregando Cristo, quando este se lhe revela. Este zelo incondicional é acompanhado por uma vida de abnegação total ao serviço daqueles que ele ama.
Cumprir a missão, não importam os trabalhos, fadigas, sofrimentos, privações, perigos de morte (1 Cor 4,9-13; 2 Cor 4,8; 6,4-10; 11,23-27). Nada o separará do amor a Deus e a Cristo (Rom 8,35-39). É dono de uma altivez legítima e humilde quando afirma que trabalhou mais que os outros (1 Cor 15,10; 2 Cor 11,5) e quando convida seus fieis a imitá-lo (2, Tes 3,7). E atribui à graça de Deus tudo o que realiza (1 Cor 15,10; 2 Cor 4,7; Fl 4,13; Cl 1,29; Ef 3,7).
Quando os gálatas ameaçam abandonar a fé, ele se inflama de indignação (1 Gl 1,6; 3,1-3). Sente um doloroso embaraço diante da inconstância vaidosa dos coríntios (2 Cor 12,11-13). Para censurar os inconstantes, usa de ironia (2 Cor 11,7) ou de duras reprimendas (Gl 3,1-3, 4,11; 1 Cor 3,1-3; 5,1-2; 6,5; 11,17-22; 2 Cor 11,3s).
Paulo combateu os judeus-cristãos integristas que alegavam fidelidade a Pedro (1 Cor 1, 12) e Tiago (Gl 2, 12). Paulo respeita a autoridade dos Apóstolos (Gl 1,18; 2,2), embora reivindique ser também testemunha de Cristo (Gl 1,11; 1 Cor 9,1; 15,8-11) e tenha resistido a Pedro em uma contenda (Gl 2,11-14). Paulo viu na coleta em favor dos pobres de Jerusalém uma oportunidade de união entre os cristãos da gentilidade e os da Igreja-Mãe (2 Cor 8,14; 9,12-13; Rom 15,26s).
Podemos deduzir que Paulo não conheceu Cristo em vida (2 Cor 5,16), mas conheceu seus ensinamentos (1 Ts 4,15; 1 Cor 7,10). Mas Cristo se mostra a Paulo e o chama em Damasco (At 9,17; 1 Cor 9,1; 15,8). Paulo ainda vê Cristo depois (At 22,17-21; 26,16). Em suma, as Epístolas de Paulo é uma Palavra ideal para encontrar Cristo e a Salvação prometida por Deus.
*Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
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