DESEJOS EM QUALQUER TEMPO
*Por Adilson Luiz Gonçalves
O ser humano tem usado e abusado do direito de errar, e exercitado pouquíssimo o perdão. Erra-se muito por ignorância. No entanto, erros propositais, de má-fé e até erros travestidos de acertos são cada vez mais comuns, com vítimas que sequer podem perdoar, em vida.
Tem gente que usa Deus para justificar seus erros, ou potestades do mal, como desculpa. Há ainda os que culpam os outros por sua falta de caráter ou de controle de instintos. No entanto, arrependimentos sinceros podem redimi-los. Estão errando muito contra a natureza e a humanidade, em pensamentos, atos e palavras. E mesmo os que pregam a tolerância e a superação de preconceitos acabam discriminando e sendo intolerantes de forma ainda mais intensa e lesiva.
Certa vez, ouvi que nenhum ser humano nasce com ódio: ele precisa ser ensinado. Acredito nessa tese. Assim, todos nasceriam potencialmente bons, pedras brutas a serem lapidadas pela vida. Mesmo as mais duras e toscas podem emanar beleza! E quanto mais facetadas pela aprendizagem de viver, melhor refletirão e transformarão a luz em deslumbramento, encantando a todos que as observarem.
Existem pessoas que brilham naturalmente, irradiando uma luz que vem de dentro; que ilumina sem ofuscar; que também refletem o brilho do semelhante; que não querem ser nem se acham estrelas-guias, mas apenas mais um a tornar claros os caminhos; que não desejam nem precisam absorver, encobrir ou apagar a luz do outro para cintilarem; que não precisam de sombra para serem notadas.
Os erros enfraquecem progressivamente essa luz original. É como uma joia que não se cuida: a poeira do tempo a embaça ou oxida, perdendo progressivamente a capacidade de refletir. O arrependimento é como um polimento da alma! E o cuidado em não mais errar é como uma proteção contra as ?intempéries? do meio em que se vive. Luzes artificiais não escondem as sombras, só as realçam, embora nem todos enxerguem essa escuridão.
Luz do nascimento... Luz do arrependimento...Como seria bom se a ?árvore humanidade?, com suas raízes, ramos, flores e frutos estivesse sempre repleta dessas luzes, em qualquer época do ano. Talvez mais ninguém precisasse nascer em manjedouras... Talvez mais ninguém precisasse ser humilhado e imolado pelos erros dos outros, para redimi-los... Talvez fossemos bons simplesmente porque não faz nenhum sentido ser de outra forma.
Para tanto, é preciso muito amor, tolerância, persistência e compreensão! Sentimentos bem expressos na música cantada por Frejat: ?E com os que erram feio e bastante, que você consiga ser tolerante?, e ?Desejo que você tenha a quem amar. E quando estiver bem cansado, ainda exista amor pra recomeçar?.
Então, que cada dia seja um renascer brilhante, em qualquer tempo, com tantos ?fogos? de arrependimentos quantos forem precisos para que não mais sejam necessários artifícios de qualquer espécie. Quem sabe o paraíso deixe de ser uma esperança longínqua, uma utopia, para se tornar uma realidade presente e universal.
*Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e professor universitário....