LUZES DA CIDADE
LUZES DA CIDADE
* Adilson Luiz
O Brasil tem três épocas do ano em que as cidades vivem um "clima" diferente: Carnaval, Festas Juninas e Fim de Ano.
Na Festa de Momo e em tempos de Natal, Ano Novo e Festa de Reis muitas adotam decorações especiais, colocadas em avenidas e praças. As casas e prédios, públicos e particulares, também participam dessa festa de cores, quebrando a monotonia do cinza do concreto, aproximando pessoas e mostrando a criatividade de cada um. Em alguns casos, isso até vira atração turística!
Também é o caso de minha cidade:
Quando chega Dezembro, uma rua chama especialmente a atenção de todos. Ela é pequena, em extensão: apenas uma quadra, e ladeada basicamente por edifícios. Afora essa época natalina ela não tem maiores atrativos, a não ser o fato de praticamente não ter muros, coisa incomum em tempos de violência urbana em alta. Mas, como ela se transforma maravilhosamente no último mês do ano!
Os moradores, em doce cumplicidade, decoram fachadas e árvores com enfeites e luzes, muitas luzes!
O resultado é sempre magnífico e pessoas de várias partes da cidade vêm, a pé ou de carro, só para percorrer aquelas poucas dezenas de metros, com deslumbramento calmo e olhar infantil. Ninguém buzina nem reclama de distraídos encontrões. Pelo contrário, desculpam-se com sorrisos tão iluminados como a rua. É contagiante!
Não longe dela, ocorre uma saudável competição:
Moradores de casas tiram seus carros das garagens por mais de um mês, para nelas alojarem presépios e outros cenários, com várias versões de Papai e Mamãe Noel, anões e renas, estáticos ou móveis, que deixam crianças e adultos encantados.
Para todos os que passam o verbo ter deixa de ser importante, para dar lugar ao ver, sentido dos sentidos, que permite distinguir as luzes e cores, e só perde para o brilho da alma dos que sabem amar, mesmo quando os olhos não conseguem ver.
As luzes da cidade parecem brilhar mais em tempos de Natal. E não são apenas as lâmpadas incandescentes ou fluorescentes: as pessoas também! Algumas brilham tanto, que iluminam outras, distribuindo alimentos e presentes para os que, de outra forma, não os teriam. E não o fazem em troca de gratidão ou submissão, mas por pura bondade, que continua por todo ano.
Esses são como luzes! Muitas Luzes! Que não são medidas em watts, lumens ou luxes; que não incandescem filamentos, mas mitigam lamentos; que não incendeiam gases nobres, mas revelam os nobres sentimentos, que todos temos, mas que às vezes ficam ocultos pelo corre-corre insano do dia a dia.
Como é bom, de vez em quando, parar e olhar calmamente para essas luzes! Até a gente, sem querer, de repente, pode começar a brilhar. E o mundo precisa dessas luzes todos os dias.
* Adilson Luiz Gonçalves é Mestre em Educação
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