Embriões congelam sessão do Supremo
Embriões congelam sessão do Supremo
* Sandra Silva
O pedido de vista do ministro Menezes Direito durante o processo de julgamento do Supremo Tribunal Federal que decidiria sobre as pesquisas com células-tronco embrionárias adiou uma das mais importantes e urgentes questões nacionais. É desalentador que ainda se precise esperar mais um tempo para oferecer a oportunidade de qualidade de vida para centenas de brasileiros que estão guindados a doenças mortais ou incapacidade física e que podem retomar a normalidade de suas vidas através dos resultados das pesquisas que estão na pauta dos cientistas.
Experiências científicas trouxeram a civilização ao atual patamar de desenvolvimento e longevidade. A Idade das Trevas onde tudo era pecado, bruxaria e demoníaco esgarçou-se no tempo. Espera-se que não retorne em pleno século de tantas luzes.
Os embriões, no entendimento de uma das correntes que estuda o processo não têm vida além da vegetativa e não tomarão forma humana se não forem implantados no útero da mulher. Dizer ou insinuar de que as pesquisas com embriões lembram os métodos geneticistas de Hitler é outro absurdo. As células embrionárias podem ter vida, mas não têm vida humana, coisa que somente se dará após o acolhimento no útero feminino.
Um paraplégico paulista que foi assistir ao julgamento no STF, ao ser informado que um dos ministros pedira vista do processo atirou-se de sua cadeira de rodas e rastejou no chão para que os magistrados vissem ?in loco? ao que determinadas doenças reduzem os humanos quando não os matam prematuramente. A pesquisa com essas células poderá oferecer a volta dos movimentos para quem os perdeu por acidente ou doença, a cura do diabetes, do mal de Parkinson, do Alzheimer e determinados tipos de câncer.
A origem dos embriões que acabaram submetidos a uma decisão pela Suprema Corte são sobras de processos de fertilização in vitro com fins de reprodução. A vigente lei de Biossegurança (11.105/2005) do país admite que os exemplares de embriões congelados há mais de três anos ou inviáveis para reprodução sejam utilizados para fins científicos, desde que tenham o consentimento de seus proprietários. É criminalizada, entretanto, qualquer comercialização de material biológico.
A pergunta que não quer calar é que se as pesquisas com embriões forem exitosas poder-se-á devolver a normalidade para quem está sob o torniquete da invalidez, de doença degenerativa ou maligna através de procedimentos rápidos e indolores. Inviabilizar a possibilidade de sobrevida aos enfermos não nos parece o caminho mais redentor. Coloquemo-nos como um indivíduo que apresenta uma dessas seqüelas ou imaginemos um filho em tais condições e tentemos sentir o que é a possibilidade de voltar a ter movimentos ou exercer as atividades cerebrais normais. Somente experimentando a pimenta saberemos exatamente o quanto arde.
* Sandra é socióloga e jornalista ( e-mail: sandrasilva33@yahoo.com.br )
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