AS BRIGAS CONJUGAIS ATRAVÉS DE UM JOGO DE XADREZ.
* Antonio Brás Constante
Se para alguns o casamento é um jogo de cartas marcadas, poderíamos descrever as brigas conjugais como os movimentos das peças de um jogo de xadrez. As desavenças podem ter seu princípio quando uma rainha resolve atacar o rei (algumas vezes se referindo a problemas envolvendo um cheque ou o contra-cheque), ou ainda por causa de um rei egocêntrico, que gosta de se achar a peça mais importante da partida, sacrificando a felicidade da própria rainha em nome de seu bem-estar egoísta.
As brigas têm etapas de certa forma definidas, mas pouco definitivas. Podem começar com um silêncio ensurdecedor. Os jogadores (marido e mulher) quase nem se olham nos olhos. Ficam esperando o melhor momento para dar o lance inicial, até que um deles resolve mover o primeiro peão da troca de palavras, numa tentativa de avançar rumo à guerra ou de se chegar a um ponto de paz.
Logo se armam as torres, como muralhas de ódio entre os dois, e cuja visão que só enxerga em linha reta. Um ataque direto. Cego para as nuances em sua volta. A função da torre nas brigas é impedir qualquer aproximação, esconder sentimentos, isolando os amantes em casulos de solidão.
A partir deste estágio surgem os cavalos, dando coices e patadas mortais em qualquer relacionamento. A discussão assume um andar torpe, que ataca pulando por cima de qualquer chance de proteção, lançando-se de forma suicida feito um animal ensandecido. Os cavalos deveriam ser chamados de cobras, pois parecem sempre prontos para dar o bote. Esmagando e pisoteando qualquer tentativa de dialogo. Movendo-se como peças loucas pelo tabuleiro da vida.
O jogo vai piorando a cada instante. Então surgem os bispos, correndo de lado, fulminando com olhares atravessados, em seus movimentos eternamente separados, sem se tocar. Eles transpassam todas as defesas, e sem qualquer sinal de piedade, buscam atingir sempre o coração. Muitas vezes, tudo termina em meio ao movimentar intransigente destas peças, deslocadas através do rancor, dúvidas e decepção.
Mas é quando a poeira baixa e todas as demais peças caem, que enfim podem ficar frente-a-frente rei e rainha, faces opostas de uma mesma moeda. Neste momento, se o amor falar mais forte que o desafeto, talvez ambos percebam o quanto estavam errados ao tentar tomar o espaço do outro no tabuleiro. Quem sabe até entendam que não são rivais mortais, e sim parceiros em busca de um mesmo objetivo. A partir deste momento um novo jogo tem início, agora com o rei e sua rainha andando lado-a-lado, cercados de outras regras, forjadas com promessas repletas de felicidade. Assim a partida termina e a união recomeça, selada com um beijo declarando a vitória no empate. XEQUE-MATE.
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