AMOR E CALDO VERDE
AMOR E CALDO VERDE
* Adilson Luiz
Chegou o frio!
Sei que ele gera alguns problemas econômicos, sociais e de saúde. Mas, em tempos malucos de mudanças climáticas é para celebrar quando uma estação vem na época certa. As paisagens brancas dão um ar europeu ao Trópico de Capricórnio e a Zona Temperada ganha mais um tempero nessa mistura de origens e gostos maravilhosa que é o Brasil.
A gastronomia também é diferente no frio: pratos um pouco mais calóricos são apreciados sem tanta culpa, pois o organismo precisa gerar mais energia. O pinhão volta às mesas, assim como o quentão e o vinho quente, que também servem para aquecer mãos sem luvas.
Cecília, minha mulher, tem um prazer especial nesses dias gélidos: sopas!
Confesso que prefiro uma boa picanha, degustada ao lado da churrasqueira, mas não recuso um creme de queijo, cebola, aspargos ou palmito, ainda mais se acompanhado de pão e vinho. O creme dentro de uma broa de pão italiano, então... E pode ser sopa de pacotinho, mesmo! Se bem que eu sempre incremento seu preparo com outros ingredientes mastigáveis, tais como: presunto, azeitonas, cogumelos, além de ?croûtons?. Para uns, isso pode parecer sofisticação, para outros, uma afronta à ?cuisine gourmet?; mas é rápido e fica uma delícia!
Aliás, eu uso sopa de pacotinho pelo fato de não ser muito fã de fazer sopa à moda antiga: prato simples, mas, normalmente, demorado. Quando se trata de obter um sorriso de minha mulher, no entanto, qualquer trabalho motiva. Foi esse o caso quando minha esposa disse, esfregando as mãos numa noite fria, que um caldo verde iria bem...
Resolvi fazê-lo de forma totalmente empírica e improvisada. Cecília apoiou imediatamente, confiando em meus ?dotes? culinários antigos, mas pouco usados, em função de minhas múltiplas atividades. Eu e meus irmãos aprendemos a cozinhar na infância, para dar ?uma força? a minha mãe. Afinal, cuidar e educar cinco filhos não era tarefa das mais fáceis.
Logo que cheguei, à noite, fui direto para a lida, sob o olhar animado de Cecília. Descasquei as batatas e cortei lingüiça calabresa em cubinhos. Numa panela, refoguei alho picado e ?tempero completo? em óleo. Juntei água, uma porção de caldo de carne (também tinha de legumes, mas sou O+, carnívoro pela própria natureza) e cozinhei as batatas nessa mistura. Após espremê-las e devolvê-las ao caldo, juntei a lingüiça (previamente frita), a couve e deixei cozinhar. A ?cara? ficou parecida com o prato original e o aroma também. Enquanto isso, minha mulher preparava a mesa, o pão italiano e o azeite.
Sem falsa modéstia, ficou muito bom! O que foi comprovado pelo sorriso prazeroso de Cecília.
Como são bons os dias frios com ela! Aliás, como são bons todos os dias com ela, que nunca são frios!
Aqueçam-se com seus amores, amigos! E se tiverem um agasalho sobrando, não esqueçam de quem não tem outras formas de se aquecer.
* Adilson Luiz é escritor, professor universitário e cura Mestrado em Educação.
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