BOA SORTE!
BOA SORTE!
* Adilson Luiz
Outro dia, um colega perguntou se eu conhecia certa pessoa, mestre de uma construção que ele havia vistoriado.
Lembrava, sim! Eu trabalhara com ele, então um jovem encarregado, havia quase vinte anos. Era competente e vivaz.
Seria um excelente engenheiro, se tivesse oportunidade para estudar. Mas, talvez achasse que isso ?não era para ele?, juízo que nenhum ser humano deveria fazer de si próprio. Quem sabe precisava trabalhar diuturnamente, inclusive em fins de semanas e férias, para sustentar sua família. Ou, ainda, faltou quem investisse em seu potencial. Pessoas que tirassem proveito dele, mas também soubessem dar-lhe valor. Gente que abrisse portas, em vez de fechá-las!
Na época, quando saí da empresa, fiz questão de agradecer a todos com quem havia trabalho. Desejei-lhes, sinceramente, boa sorte. Mereciam!
Passadas quase duas décadas, ele perguntara ao meu colega se eu ainda trabalhava no mesmo lugar. Ele lembrava! Ao saber que sim, disse que gostaria muito de ?bater um papo? comigo. Fui, então, visitar sua obra, o que era ?urgente?, pois ela estava terminando e ele seria remanejado.
Quando me identifiquei, foi como se o tempo retornasse, e os cabelos brancos voltassem ao tom anterior. Ele tinha bem mais que os meus, mas a vivacidade continuava a mesma!
Falamos dos tempos idos, de família, de filhos e do futuro. Ele disse que recebera uma proposta para trabalhar no exterior, numa grande obra, como mestre que era. O salário seria ótimo e ele ainda teria direito a passagens aéreas, para visitar o Brasil.
Fantástico! Mas ele tinha um receio: ficar longe da mulher e da filha, ainda criança. Em contrapartida, teria tranqüilidade financeira para custear a formação universitária da esposa e garantir o porvir da filha.
Concordei e o incentivei a ir, primeiro porque o prazo não era tão longo; segundo, porque hoje existe a Internet e ele poderia ver e falar com a família diariamente. Só não poderia abraçar e beijar... Além disso, recomendei que ele aproveitasse a viagem para aprender inglês, lá, o que valorizaria ainda mais seu ?passe?.
Ele ouviu atentamente e pareceu concordar. Depois, mostrou a obra e, por fim, tomamos um café e nos despedimos, com apreço.
É provável que passem outros vinte anos antes que voltemos a nos ver. Talvez isso nunca volte a ocorrer. Mas, como é bom saber que pessoas que a gente respeita e gosta nutrem os mesmos sentimentos por nós, apesar do tempo e da distância.
Boa sorte, amigo! Que Deus abençoe seus caminhos e os que caminham com você!
* Adilson Luiz Gonçalves é Mestre em Educação, Escritor, Engenheiro e Professor.
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