QUANDO O TELEFONE TOCA
QUANDO O TELEFONE TOCA
* Adilson Luiz
O telefone é um invento maravilhoso, mas, como toda invenção, o uso que se faz dele nem sempre é benéfico. É o caso, por exemplo, das ligações feitas por instituições financeiras, sempre pródigas quando se trata de oferecer produtos, mas comumente reticentes no que refere à resolução de problemas que elas mesmas criam.
No caso de ofertas, as tentativas de convencimento abusam de frases feitas e psicologia barata que ultrapassam o limite do tolerável.
Quando elas vêm de instituições que utilizamos ainda dá para entender, mas fora desse âmbito é uma ofensa a nossa inteligência ouvir que nos contataram por indicação de amigos ou empresas. Consulta à lista telefônica é indicação de amigo?
O pior é que no afã de cumprir cotas alguns exageram na dose. Pouco adianta dizermos que não há interesse. É preciso convencer o tenaz interlocutor de que ambos estamos perdendo tempo com isso. A gente avisa que vai desligar, mas ele tenta até ao último suspiro: ?Mas o senhor não vai nem ouvir a proposta??.
Fim de papo? Que nada! Tempos depois liga outro vendedor, da mesma empresa, e tudo recomeça.
Recentemente, tive um exemplo desse inconveniente sob novo aspecto:
Ao telefone, uma pessoa identificou-se como representante de uma operadora de cartões de crédito e pediu para falar com minha esposa. Ela não estava, mas perguntei qual era o assunto. Imaginei que o tema poderia ser diferente, pois anteriormente eu já havia dito que não tinha interesse nos serviços daquela empresa.
Ela esclareceu que precisava falar com minha mulher sobre assuntos relativos ao ?desligamento? dela do cadastro da operadora!
Fiquei atônito e preocupado, pois nunca tivéramos qualquer espécie de vínculo com aquela instituição. Que conversa era aquela de ?desligamento??
Ela explicou que era de um cadastro feito por ?indicação de empresas? que trabalhavam com a operadora. Em suma, ela fora extremamente infeliz na forma como apresentara o motivo do contato.
Pedi para que ela excluísse imediatamente nosso número do indevido e não autorizado ?cadastro?, mas ela respondeu que só a pessoa ?cadastrada? poderia autorizá-lo. O ônus do inconveniente cabia a quem nem era cliente! Os incomodados que mudem? Absurdo!
O consolo é que, ao menos, o Código de Defesa do Consumidor acabou com a prática maliciosa de enviar cartões de crédito ativados, não solicitados, pelo correio. O infeliz ?agraciado? era obrigado a ligar para dizer que não queria o cartão e aturar nova ladainha sobre as ?vantagens? que ele estaria perdendo. E ai dele se não ligasse, pois no mês seguinte já vinha fatura com a anuidade.
Ainda há muito que corrigir e evoluir nas práticas de ?telemarketing?, principalmente no que se refere à forma de abordagem. Insistir demais ou tentar iludir um cliente potencial só fazem prejudicar a imagem das empresas.
* Adilson Luiz Gonçalves é Escritor, Professor Universitário e cursa Mestrado em Educação ...