Para que seja belo o horizonte...
Para que seja belo o horizonte...
* Petronio Sousa
Quando Aarão Reis imaginou Belo Horizonte, pensou fundir em suas esquinas os muitos destinos do povo mineiro. Hoje, nos ângulos tortos da capital das Gerais, encontram-se os sonhos retos de tantos mineiros. Aqui, diante das muitas encruzilhadas de caminhos e opções, a escolha dos que deixaram o interior de Minas em busca de uma vida diferente da dos seus iguais, pede um minuto de paz para viajar no tempo e sonhar estar em uma outra esquina, naquela mesma em que experimentou o primeiro trago de amargura. Tem-se aí, de uma certa forma, o ponto original de tantos bares por quarteirões quadrados da grande cidade.
Abrigando as muitas Minas e seus vários sotaques, Belo Horizonte trava uma luta surda diária para conciliar seus teréns com tantas modernidades. A cidade busca, por força inconsciente de cada um de nós, preservar as nossas coisas tão caras, aquelas que foram entalhadas e lapidadas por um interior que vive guardado dentro de cada um, no mais fundo. É a mãe que quer abraçar seus filhos diante de uma fria tempestade. É a mãe que segura com as mãos trêmulas a vela, diante da mais absoluta escuridão.
A poesia do nome não a eleva acima dos seus problemas. O horizonte, quase não se vê mais. De cá, ele fica um tanto quanto quadrado, limitado, nos privando do frescor do infinito. A ordem é crescer, a ordem é se modernizar. Antes disso, deveria ser dever de toda cidade se humanizar. Ter uma estrutura para abrigar cidadãos e não apenas comportar gente. Assim, a cidade fica doente, com suas praças sem vida, suas ruas esquecidas, suas calçadas vazias de tardes e horizontes. Meu Deus, viver não é apenas existir, é fazer da convivência humana um renovado e mágico princípio.
O interior é um trem que está dentro da gente, um trem que a cidade não sente. E é nele que nos banhamos, todo dia, para suportar as várias esquinas que não são nossas. É nele que encontramos o entusiasmo para dizer bom dia, para ser honesto e, de vez em quando, até tentar mudar o frio mundo que nos cerca.
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