TEMPOS DE CÓLERA
TEMPOS DE CÓLERA
* Sandra Silva
As cotas estão aí para estabelecer as divisões, criando compartimentos desnecessários num povo humilde e despreparado.
As serpentes põem ovos fertilizados para que sua espécie não se extinga. Mas uma serpente, mesmo dentro de um ovo, não deixa de ser serpente. E estará sempre pronta a cuspir seu veneno. Tenório Cavalcanti legou a melhor frase que conheço para desenhar os tempos em que vivemos: ?Só existem dois grupos em verdadeira luta no Brasil: os que estão roubando e os que querem roubar?.
Gilberto Freyre, o papa do conhecimento sobre o coronelismo no Brasil está superado ante o que estamos assistindo de nossa confortável poltrona em frente à televisão de tela líquida com a alta definição hipotética.
Os contrários contrariam tais postulações sob a égide de que há liberdade de ir e vir e isso é o máximo da democracia. Santa ingenuidade! Onde estão as garantias na educação de qualidade, no transporte público, nas estradas que ceifam vida aos borbotões, no saneamento medíocre, na prisão domiciliar que os criminosos nos impingiram?
Os brasileiros estão permanentemente anestesiados por imagens, videoclipes, pesquisas de opinião e big brothers. Tal qual o antes preclaro congresso nacional está vivendo uma psicopatologia de comportamento. Neste país a corrupção virou regra e a moralidade, exceção. Profundamente doente, a nação está com um câncer progressivo que a levará à septicemia.
O ex-senador Agenor Maria sentenciou, três décadas atrás, que alguns homens roubavam para se eleger e se elegiam para roubar. Cadeia para esta gente, nem pensar. Cadeia só guarda pretos, pobres e putas, e estas, dependendo de seu poder de relacionamento, não adentram mais a essas espeluncas.
No episódio do caseiro delator quem será o proscrito? O deputado ou o infeliz brasileiro que teve a desfaçatez de apontar o dedo para o então ministro?
Se os tempos são de trevas foi porque apagamos a luz.
Enquanto nossos políticos amealham fortunas tornando-se empresários poderosos numa mágica estonteante de conciliar a vida parlamentar com a privada e obter tanto sucesso, o cidadão brasileiro tenta se equilibrar ao menos para pagar as contas e continuar perseguindo o sonho da aposentadoria que nem mais razoável o é.
* E-mail: sandra.silva@brturbo.com.br
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