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A ZEBRA QUE NÃO ERA
A ZEBRA QUE NÃO ERA *Cheida Cor-de-rosa, azuis, amarelos, alaranjados, verdes... Quando vi aqueles pintinhos, coloridos artificialmente, sendo vendidos nas Filipinas, pensei: - É o fim dos tempos! Entretanto, depois de expirar todo o ar das bochechas, dos pulmões e, principalmente, do estômago, me lembrei de uma pobre zebra que conheci. Eu descia a estrada que passa por Ponta Grossa, em direção à Curitiba. De repente, pela fresta da janela vi uma estranha figura, amarrada a um poste, num posto de gasolina. Parei, desci do carro e fui logo exibindo minhas credenciais de autoridade ambiental, como é de praxe num caso daquele porte: - Que uma zebra, animal prá lá de exótico, faz por aqui? Ela manteve-se muda. Insisti: - Ei! É com a senhora que estou falando! O que uma zebra faz, amarrada aqui, num posto de gasolina, no bioma Campos Gerais? - Por favor, cavalheiro, estou morta de vergonha ? falou, virando-se de lado, com uma voz tímida, entrecortada por dois soluços. Foi aí que notei uma pequena tabuleta, amarrada em seu quarto esquerdo traseiro, onde se lia: - VENDI-SE A ZEBRA. SECENTA REAL. - Desculpe-me, minha senhora. Não tinha visto a placa. - Ah, a placa. Não ligo pra ela. Eu nem sei ler... - Ué, então porque tanta vergonha? ? provoquei. Ela desabou aqueles enormes cílios por sobre os seus olhos tristes e um corguinho de nada nasceu num deles e foi caminhando até o seu focinho. - Então, por que tanta vergonha, dona zebra? ? insisti, maldoso. - Porque eu não sou uma zebra, seu fiscal. - Como é?! - Eu sou mula branca, de nascença. O malvado do meu dono foi quem pintou no meu couro cada uma destas listras pretas. - E, pra quê? ? perguntei, soltando agora eu, os dois soluços. - Deve de ser pra me vender. Hoje, me lembrei do fato. Que triste ver pintinhos também pintados. Devem estar mortos de vergonha. Mas, pintinhos não falam. Então, talvez, devamos falar por eles. A história com a zebra também foi real. Conversamos até mais do que relatei aqui, mas isso fica pra outro dia. Só uma coisinha de nada não contei: joguei a placa longe e, no lava-a-jato do posto, a zebrinha, finalmente, virou mula. Para sempre. Um forte abraço e até semana que vem. * Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná ...


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