POBREZINHO DO SENADOR!
POBREZINHO DO SENADOR!
* Sandra Silva
O senhor José Sarney chegou à deputação em 1958. É mais de meio século como político representando os incautos eleitores de regiões onde as promessas multiplicam votos. Em 50 anos o venerável senhor acabou perdendo a noção do certo-errado. Por isso agora não sabe que esses atos secretos e outras circunstâncias tipo auxílio-moradia - mesmo tendo à sua disposição a residência reservada ao presidente do Senado - não poderia fazer parte de seu contracheque. É um senhor sem pretensões financeiras, pois se veja: não olha o documento salarial porque tudo o que faz é pelo povo! É o que se pode depreender por não ter percebido que recebia uma cota que não lhe era devida porque já satisfeita a situação. Pobrezinho, não teve a intenção! Quanta maldade todas essas denúncias contra um cidadão que sempre esteve a serviço dos necessitados! Assim seus defensores tem defendido as arroubas de denúncias.
Alguns analistas estão a dizer que os outros 80 companheiros do cavalheiro imortal não querem cassá-lo, apenas afastá-lo para satisfazerem o clamor dos brasileiros que ainda refletem sobre o que paira no país. Querem purgar nele toda a sua insânia como se fossem cordeiros aprisionados num curral cuja única cancela de fuga é vigiada por um lobo muito mau. Os últimos acontecimentos corroboram a tese. Nenhuma representação feita contra o distinto cavalheiro foi recepcionada. Segundo o ilustre senador presidente da Comissão de Ética tudo não passa de referências da imprensa. E como se tem visto, lido e ouvido, a imprensa hoje é a responsável pelas mazelas nacionais. Afinal ela destampa os esgotos e o odor fere os mais sensíveis olfatos. A que ponto se chegou neste país! Realmente, nunca antes...
No próximo ano haverá eleições incluindo o Senado. Terão os brasileiros até lá esquecido estas mazelas que emporcalham a nação e a si próprios? Estará a bicameralidade a perigo por escassez de votos? Ou novamente os candidatos cara-de-pau serão recebidos com mesuras e rapapés que dão origem a todo o nojento processo de locupletação que defasa a sociedade em suas mais legítimas aspirações e direitos?
Os brasileiros caíram em descrédito na opinião internacional em face da excessiva tolerância com o mau e o mal, repetindo o ato do romano Pôncio Pilatos na histórica lavagem das mãos. Sem cruzes e pregos crucificam a ética, a honra, a decência, a probidade, a fé e a esperança. Não esperem, contudo, o milagre da ressurreição.
* Sandra Silva é jornalista e socióloga no Rio Grande do Sul.
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