BONSAI DE GENTE
BONSAI DE GENTE
* Adilson Luiz
Todos estão sujeitos a desilusões e insucessos, mas existem pessoas que transformam, consciente ou inconscientemente, suas experiências infelizes, sobretudo as emotivas, num fardo insuportável para os filhos, com sequelas por toda a vida. Embora não admitam, sob o pretexto de os protegerem de situações análogas criam um mundo paralelo, baseado em seus medos e frustrações, e os condenam a andar na contramão da vida, como herdeiros e guardiões de sua ?doutrina?.
Seu egoísmo quer transformar exceção em regra, não por acreditarem no acerto de suas decisões e opções pessoais, mas para tentarem se convencer - e ao mundo - de que estão certos. Como não conseguem convencer o mundo, só lhes resta ?educar? seus filhos dentro dos limites pequenos e estanques de suas famílias, se é que a relação doentia que os une pode ser chamada assim. Também não conseguem punir o mundo por suas frustrações. Assim, punem os filhos tolhendo-lhes a autonomia, pois temem que seus ?valores? sejam questionados pela comparação e percam seu único respaldo e alternativa à solidão. Daí, o amor espontâneo cede lugar à devoção fanática, mantida pela chantagem psicológica e financeira, que beira perigosamente os limites da idolatria incestuosa.
Em muitos aspectos não são diferentes dos que, por ignorância ou má fé, geram e criam filhos para o autossustento, condenando-os a viverem com as mãos estendidas nas ruas da vida. Esses pais querem sustento, sim, mas não do dinheiro de esmolas: querem filhos-escravos, pois, para proveito próprio, negam-lhes o direito às escolhas pessoais e ao risco do erro e do acerto que é inerente ao ser humano. Patrulham os filhos não para cuidá-los, mas para evitar perda de controle sobre eles. Sua cegueira seletiva só enxerga os raros exemplos que os justificam, construindo uma vida solitária, cheia de barreiras e imposições, mas esbanjando altivez arrogante.
Seu ?fundamentalismo? não concebe esperança de superação e felicidade dos filhos fora de seus ?dogmas?. No limite, chegam a torcer e articular pelo fracasso de suas experiências independentes, apenas para provarem que estão ?certos?. Será que não compreendem que em vez de livrar os filhos dos males que os afligiram ? talvez por seus próprios erros de julgamento - os estão condenando, duplamente e sem clemência, à perpetuação de seus efeitos? Não percebem que, satisfeitos seus caprichos paternais, talvez sua principal ?herança? seja o comprometimento definitivo das chances de felicidade de seus descendentes?
Os referenciais que impõe geram barreiras psicológicas intransponíveis, incapacidade de relacionamento fora de seu ?universo? e impossibilidade de converter os falsos brilhantes de seus ?valores? no câmbio da vida. A relação de pais e filhos tem que ser de amor e respeito mútuos, e a família deve ser um porto seguro e não um cemitério de navios!
Porque insistem em manter o ?cordão umbilical??
Se ?são demais os perigos dessa vida? isso não implica em render-se à paranóia! Os riscos têm que ser enfrentados e superados com a esperança de transformação, pois viver é um processo de evolução brilhante e não uma repetição opaca e monótona, tolhido por medos e preconceitos alheios. A construção da felicidade é uma tarefa pessoal e intransferível, pois não há um ser humano igual ao outro, como não há uma vida igual à outra!
Uma existência híbrida, plantada no solo estéril da superproteção ou do autoritarismo, e tolhida como um ?bonsai? pode até gerar um ser aparentemente vistoso, mas ele permanecerá pequeno e dificilmente gerará nova semente. A vida tem que ser semente pura, que germina e cresce livre e forte em busca do Sol, e gera nova e sempre melhor semente. Aí reside o grande mistério e fascínio da vida!
* Adilson Luiz Gonçalves é Mestre em Educação.
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