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A comunicação e o tempo
A comunicação e o tempo * Petrônio Souza No principio era o verbo. Sem o verbo, haveria homens, não haveria história. A Humanidade é a soma de seus sonhos e seus sinais, signos, palavras e sentimentos, a tradução de seu tempo. Sem o repasse das experiências traduzidas em palavras, signos e sinais, a sociedade não seria um todo, mas várias, formando um corpo indefinido. A linguagem é o tangível e o intangível, a materialização do pensamento e a busca pelo que não foi arquitetado. É a busca pelo que não foi vivido, mas só sentido em palavras, descrito pela linguagem, que move a humanidade. A linguagem nasce no presente, vive no passado e se redimensiona no futuro, com toda carga semântica e suas impossíveis possibilidades. A eternidade dos avatares é a própria materialização da linguagem, a partilha viva do impossível, do improvável, do imponderável. Sem o aramaico e a transcrição de Paulo, Cristo seria um mártir, não o patrono de uma civilização. Só ela e por ela se sobrevive às guerras, impérios e civilizações. Por que o verbo é o princípio, o meio e o eterno. Sem ele, não existira a compreensão da eternidade, por que ela é feita de incompreensões, mas impregnada de imagens, sensações e história. Senhora da cultura, do pensamento humano, além de raça, credo ou região. Em tudo, identifica-se uma civilização. Nas obras, casas, nas ruas e vielas. Mas é na linguagem que ela se consolida, se materializa, sobrevivendo ao tempo e espaço. A Inconfidência Mineira, sem a poesia de Thomas Antônio Gonzaga seria um acontecimento, não seria um marco. Da revolução industrial ficaram fotos, mas sem as legendas elas seriam incompreensíveis, porque a imagem sem a palavra é temporal, mas a palavra sem a imagem é atemporal. Com o avanço da linguagem, da manifestação do pensamento, possibilitou-se o acúmulo e a transcrição de experiência, chegando ao livro, e daí criando a plataforma para o desenvolvimento humano em várias frentes. É pós a criação do livro, do condensamento do pensar e do descobrir, que o homem se tornou um ser tecnológico, passando o conhecimento de gerações a gerações, o que inaugurou uma nova fase da Humanidade, saindo do primarismo das ações repetidas e passando ao inusitado de novos e pioneiros experimentos. Com o partilhamento por meio da linguagem impressa, da materialização do pensamento em letras, ícones e símbolos, e a comunicação a outros por meio de livros, o mundo futuro foi seguindo uma escada ascendente em direção a um novo tempo, culminando com a perda da materialidade e a crescente conquista do virtual. A cada minuto, experimentando a criação de novas linguagens e até a desconstrução daquela que foi edificada ao longo do tempo. A linguagem é o registro do seu tempo, para todo o sempre. * Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor. ...


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