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A maldição do milho
A maldição do milho Luiz Antonio G. Rodrigues de Souza * O Brasil precisa de milho. É o aço do nosso agronegócio, matéria-prima básica da cadeia de produção. Frango, ovos, suínos, leite: todos estes usam o cereal. Sustentam milhares de agricultores familiares e agregam renda ao desenvolvimento rural. Sem milho não há muçarela, peito de frango, presunto, iogurte, e não há grandes exportações de carne. Se não exportamos tanto milho é porque agregamos valor e exportamos carne de aves e de suíno. A produção de milho no país é crescente. Houve época em que o Brasil importou, pois a antiga política industrial de agregação de valor foi implementada de forma equivocada, fazendo com que o produtor não se animasse a plantar e a se tecnificar. Hoje, depois da liberalização dos anos 90, até exporta. Mas as condições ainda são bem delicadas: falta espaço para armazenar, a rentabilidade em regiões distantes é baixa, e a liquidez na venda menor que a da soja. Milho e soja são bens substitutos na produção. Em geral, usam a mesma terra, a mesma maquinaria, o mesmo tipo de insumos. A soja vale mais por saca (hoje: soja R$ 47,00/sc e milho R$ 19,00/sc). Na hora de armazenar, estocar soja parece ser mais negócio. Digamos que o custo de armazenagem por saca seja de R$ 5,00. Neste caso, aumenta o custo em 12% na soja, mas, mais de 25% no milho. O milho não consegue competir por armazém, e quando entra a safrinha então, já não resta mais nenhum espaço. A distância dos centros e dos portos também pesa mais para o milho. Vale o mesmo raciocínio anterior: o frete impacta mais os produtos com menor valor por quilo. Enquanto a soja pode ir mais distante, o milho fica limitado a regiões com melhor logística. Plantar milho em Ponta Grossa, PR não é mau negócio, já em Vilhena, RO, fica difícil. O problema é que mesmo nas regiões distantes o milho freqüentemente é a única opção de rotação para a soja, e o agricultor fica numa situação complicada. Na hora de vender um outro tormento! Soja tem mercado líquido: em qualquer praça tem negociante dando preço todo dia. Pode não ser um bom preço, mas tem sempre comprador. Já no milho falta liquidez. Se não for negociado antecipadamente, corre o risco de ficar encalhado, por falta de comprador spot. A causa não está perdida. O agricultor resiste. Políticas públicas, como prêmio para escoamento, são implementadas. Estudos sobre transporte e armazenagem subsidiam as deciões de logística. Linhas de crédito para armazéns aumentam a capacidade de estoques. Contratos de garantia de compra são ofertados pelas grandes integradoras como Sadia e Perdigão. Novos abatedouros são implantados no centro-oeste. O agricultor improvisa armazém com os silobags. Todos estes esforços garantem que a produção não recue. O Brasil é resiliente, consegue até mesmo ampliar sua fatia no mercado internacional. O custo, porém, é a tendência de descrença do produtor no cereal amarelo. O milho vai ficando em segundo plano: a soja tem um brilho mais reluzente que ofusca as amarguras do grão asteca. * Engenheiro Agrônomo - Especialista em Políticas Públicas...


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