Polícia investiga terceiro caso de jovem que teve os dentes arrancados
A Polícia Civil do Distrito Federal investiga um terceiro caso envolvendo o dentista Wilson Oliveira Santos, que já responde processo por ter extraído todos os dentes de César Oliveira Ferreira, 17, e é investigado por ter feito a mesma coisa com Roberto Carlos Pinto Duarte, 35. Os dois pacientes têm problemas mentais e passaram por cirurgia no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde Santos trabalhava. Em ambos os casos, a indicação era para a retirada de apenas dois dentes.
Família de César Ferreira ficou revoltada
Segundo o delegado Laércio Rosseto, do 5º DP, que investiga o caso, o mesmo dentista teria extraído todos os dentes do terceiro paciente, que também apresenta retardo mental, durante cirurgia no Hran, em 2005.
A mãe e a irmã de Duarte, o segundo caso descoberto, foram ouvidas na quinta-feira (5). Na sexta, o paciente passou por exames, que foram enviados para a perícia. O resultado deve sair entre 10 e 15 dias.
"Um caso deve ser analisado separadamente do outro. Temos que apurar se havia a necessidade de extração total e se houve mesmo autorização da mãe. Se ela autorizou conscientemente, não há crime", explicou.
O delegado mandou apreender o documento que a mãe assinou autorizando o procedimento. Ele pretende apurar quem preencheu o papel e o que a levou a assiná-lo. A mãe de Duarte é analfabeta e teria assinado a autorização sem saber do conteúdo.
O dentista foi indiciado no dia 28 de outubro por lesão corporal gravíssima, depois que o laudo do Instituto Médico Legal (IML) concluiu que tecnicamente não havia qualquer necessidade de extrair todos os dentes de César Oliveira Ferreira. Se condenado, ele pode pegar de dois a oito anos de prisão.
Na época, o diretor do IML, Malthus Fonseca Galvão, disse que o profissional errou. "Não havia nenhum problema grave nos dentes e definitivamente não era o caso de extração completa. Houve um equívoco. A perícia constatou apenas pequenas ocorrências mínimas, como cárie e problema na gengiva, que todo mundo tem. Mas o nível ósseo dele era muito bom e os dentes eram esteticamente lindos", afirmou.
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Galvão informou ainda que apenas os dois dentes que estavam previstos e autorizados pela família deveriam ter sido arrancados. "Esses dentes realmente deveriam ser extraídos, porque apresentavam destruição coronária e comprometimento periapical e periodontal", explicou.
O IML levou em conta na análise as radiografias feitas antes e depois da operação, o exame físico do jovem, a anamnese (entrevista) e os dentes que foram apreendidos na casa do dentista. O laudo será anexado ao inquérito que investiga a responsabilidade do profissional.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que o dentista continua afastado do cargo que ocupava no hospital público e que outro processo administrativo disciplinar foi instaurado para apurar a denúncia relacionada a Duarte. A denúncia sobre a terceira vítima ainda está sendo apurada pela Secretaria.
A coordenadora de odontologia do Hran também foi exonerada, em 19 de outubro, quando surgiu a primeira denúncia, por não ter comunicado o ocorrido ao gabinete do hospital e à secretaria.
O Conselho Regional de Odontologia do Distrito Federal (CRO-DF) também abriu um segundo processo ético contra o dentista. A investigação deve durar de quatro a seis meses.
Segundo o presidente da entidade, Julio César, o conselho nunca havia registrado um caso parecido antes e não há outras denúncias contra o dentista, mas a possibilidade de existirem outros casos não foi descartada.
Santos não será afastado do CRO até que termine o julgamento, que ainda não tem data para acontecer. Caso seja condenado, pode receber uma advertência ou até perder o registro profissional, que data de 1985. Se isso acontecer e ele entrar com recurso, o processo será analisado pelo Conselho Federal de Odontologia. ...