Novas regras diminuem ganhos das farmácias
> Mesmo levando grandes prejuízos, redes farmacêuticas já aderiram à nova resolução
(Josias Brito) As novas regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), anunciadas no ano passado e que passaram a valer a partir da última quinta-feira (18), poderão ter impacto negativo nas vendas do setor, segundo as próprias empresas. A Santa Rita, maior rede de farmácias de Ji-Paraná, com quatro unidades, afirma que desde o final do ano passado, as medidas para adequar a nova resolução foram tomadas. Dentre os serviços proibidos pela agência, foi cancelado o auto-atendimento de clientes que pagavam suas contas nas suas farmácias, serviço que não está entre os listados e liberados para serem oferecidos nas drogarias.
A Anvisa, entre outras medidas, proibiu a venda de produtos como balas, sorvetes e cartões telefônicos nas farmácias, assim como determinou que alguns medicamentos de venda sem prescrição, como analgésicos e antitérmicos, não poderão mais permanecer nas gôndolas e devem ficar atrás do balcão.
O gerente da rede Santa Rita e também proprietário das drogarias Ji-Farma, Cristiano Gomes disse que as farmácias também teriam um impacto negativo de pelo menos, 5% no seu faturamento. "Não é uma fatia grande, mas teria potencial para crescer. Não entendemos por que podemos vender um sabonete, mas não um pacote de biscoito. Somos grandes clientes de marcas como Kibon, Nestlé e Coca-Cola. Todos perdem: o parque industrial, o varejo farmacêutico e o consumidor", diz.
Cristiano afirma que concorda que produtos como cigarros e bebidas alcoólicas não devem ser vendidos em farmácias, mas não entende porque não podem comercializar itens de conveniência. Segundo ele, a rede é "totalmente contra" as novas regras, mas desde 15 de setembro do ano passado, que estão atendendo as regras da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44/09 da Anvisa. ?Tivemos que comercializar os produtos que já estava em estoque, para não termos maior prejuízos. Acredito que as grandes multinacionais, as mais prejudicadas nesta regra, entre na briga e conseguia derrubar a liminar?, ressaltou.
Em relação aos medicamentos que agora só poderão ser vendidos atrás do balcão, os farmacêuticos afirmam que isso não acontece em outros países, como Estados Unidos e México, e que passa a impressão de que "estão dizendo que a população brasileira precisa ser tutoriada, não teria discernimento de saber o que é melhor para si".
Para Marcos Alonso, proprietário da Farmácia e Drogaria América em Ji-Paraná, apesar de afirmar que a rede aderiu à nova regra desde de janeiro deste ano, acredita que há um certo exagero na resolução. "A venda de medicamentos exige cuidados e eles não podem ser vendidos em qualquer esquina, mas uma farmácia vender uma água, uma bala, não quer dizer que não estamos focados na saúde", diz.
De acordo com Marcos, a empresa já se adaptou, mas não foi um grande esforço, já que já possuem um perfil de drogaria focado em produtos para saúde. "Já temos procurado investir mais em linhas diet e dermocosméticos, que tem um conceito ligado à saúde", informou.
AÇÃO JUDICIAL - A Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que representa as 25 maiores redes do País, entrou com uma ação judicial contra algumas determinações da RDC 44/09 da Anvisa, já que entende que algumas regras estão fora da área de atuação da agência. "Não vemos competência legal na Anvisa para isso. A RDC não é uma lei. Já há uma lei na Constituição Federal, a 5.991/1973, que regula o comércio farmacêutico", argumenta Sérgio Mena Barreto, presidente da entidade. "As farmácias são estabelecimentos comerciais, estamos registrados na junta comercial".
Para Barreto, o consumidor pode ter seu poder de decisão limitado. "Só de antiácidos, por exemplo, há 25 produtos diferentes. Na gôndola, o consumidor olha e escolhe de acordo com a marca ou preço, já atrás do balcão dependerá do farmacêutico, que pode indicar um produto no qual tem maior margem de lucro". Dessa forma, ele acredita que as farmácias podem até reduzir seu mix, além de ter até um impacto no preço do remédio.
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