O drama dos municÃpios - por Arthir VirgÃlio
Nestes dias em que se comemora o décimo aniversário da Lei de Responsabilidade Fiscal, uma das mais relevantes medidas tomadas pelo governo Fernando Henrique para pôr em ordem as finanças públicas, é auspicioso saber que 99% dos municÃpios brasileiros estão com suas finanças rigorosamente dentro da lei, conforme dados da Confederação Nacional dos MunicÃpios.
A LRF, recorda-se, estabelece, em resumo, limites para as despesas públicas, fixando, por exemplo, até quanto um municÃpio pode despender de suas receitas com pagamento de pessoal, proibindo a criação de gastos sem a necessária contrapartida financeira e coibindo gastanças que passem como "herança" para a próxima administração. Pôs-se ordem na grande balbúrdia até então existente.
Não obstante estar observando os limites impostos pela LRF, com gestão correta, sem excesso de despesas, a grande maioria dos municÃpios vive perÃodo de grandes dificuldades por ter minguado a transferência de recursos do Fundo de Participação dos MunicÃpios.
Eles dependem muito dos repasses do FPM, constituÃdo de 23,5% da arrecadação do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados. Algumas das medidas anticrise, como a redução de impostos, estenderam-se além do tempo razoável e acabaram se refletindo na diminuição das verbas destinadas aos municÃpios.
O problema se agrava com os aumentos do salário mÃnimo e com as despesas previdenciárias. Chega a R$ 22 bilhões o débito dos municÃpios com a Previdência Social, decorrente do não-recolhimento das contribuições. Como a União deve a eles um total de R$ 25 bilhões, a questão poderia ser resolvida por encontro de contas. Essa não seria, contudo, solução permanente para o problema.
Tenho algumas sugestões para tirar de vez os municÃpios dessa angustiante situação: 1) criação de um fundo para obras de infraestrutura nos municÃpios, cujas verbas seriam obrigatoriamente repassadas; há oito anos que pelo menos 3.000 prefeituras não recebem um centavo sequer para infraestrutura; 2) reexame dos cerca de 300 programas que deveriam beneficiar os municÃpios, mas que não funcionam a contento; 3) estudo para que os municÃpios instituam sistema previdenciário próprio, pois hoje, se deixam de fazer algum recolhimento, a União não repassa as verbas do FPM; 4) fazer o acerto de contas entre União e municÃpios, com o débito da primeira compensando os dos últimos; e 5) estabelecimento de novo pacto federativo que parta do princÃpio de que o municÃpio é a principal célula da nação.
Outras podem surgir. O importante é que as prefeituras tenham recursos suficientes para atender à s necessidades básicas da população, como saúde, educação, saneamento e outras. Não se pode perder de vista a importância dos municÃpios. Afinal, como lembrava o saudoso Ulysses Guimarães, ninguém mora no paÃs ou no Estado. Mora no municÃpio.
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Arthur VirgÃlio
Senador pelo Amazonas e lÃder do PSDB
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