O apagão profissional e o futuro do paÃs
O apagão profissional e o futuro do paÃs
Por Jorge Cunha*
Falta gente qualificada para ocupar as vagas que, em virtude do forte crescimento econômico, começam a sobrar no PaÃs. A informação está presente em estudo feito pela Fundação Dom Cabral com as 76 maiores companhias do Brasil, divulgado pela imprensa no último final de semana.
De acordo com o levantamento, os setores mais afetados são os de construção civil, indústria naval, automobilÃstico, ferroviário, moveleiro, de transportes e serviços, siderúrgico e metalúrgico. Sessenta e sete por cento das empresas consultadas pelos pesquisadores disseram ser "muito difÃcil" contratar funcionários.
Por um lado, o Brasil ainda amarga um Ãndice de 8 milhões de desempregados; de outro, sobram vagas. O que existe, portanto, é um descompasso entre "aquilo que sobra" - uma grande massa de pessoas sem qualificação e, não raro, analfabetas funcionais - e "aquilo que falta": gente bem preparada. E não se trata apenas de encontrar candidatos com o certificado de conclusão de um curso superior. Para o profissional moderno ter alguma chance de sucesso no competitivo cenário globalizado, ele deve se mostrar apto a lidar com os novos apelos do mercado, com as novas tecnologias e com a necessidade constante de rever métodos e conceitos.
A falta de mão de obra capaz de atender essa ampla gama de exigências pode sufocar os planos brasileiros de crescer mais de 5% ao ano. Ao lado da infraestrutura deficitária, do sistema tributário paquidérmico, da burocracia exagerada e da legislação trabalhista draconiana, o fenômeno que está sendo chamado de "apagão profissional" representa um gargalo importante. à muito mais caro para uma empresa se instalar num paÃs onde, por pressuposto, ela terá de captar funcionários no exterior, bancando salários atraentes e benefÃcios que motivem uma pessoa qualificada a empreender uma mudança tão grande.
Vale lembrar que, ao contrário do que ocorria algumas décadas atrás, não são somente os profissionais em cargos de comando que devem dispor de atributos como visão estratégica e capacidade de gerenciamento. Hoje, as pirâmides organizacionais não são tão rÃgidas. A cúpula ficou pequena demais para processar o enorme volume de informações e a abrangência dos conhecimentos requeridos em um cenário cada vez mais complexo. Dessa forma, surgiram novas posições, paralelas à s de gerência e direção, em geral ocupadas por técnicos e especialistas que traçam diretrizes e coordenam projetos especÃficos.
Dentro desse espÃrito florescem e se disseminam, com êxito, os conceitos de descentralização, autonomia, iniciativa, proatividade, senso crÃtico, criatividade e pensamento sistêmico. Incentivar a formação de pessoas com perfil adequado a essa gama de desafios deve ser, desde já, uma das prioridades brasileiras. Na verdade, estamos atrasados nessa jornada: o "apagão da mão-de-obra" vem sendo debatido, há tempos, por estudiosos, pesquisadores, polÃticos, empresários e executivos. Não fizemos quase nada a respeito, e agora urge correr atrás do prejuÃzo.
* Jorge Cunha chefe financeiro da BDO, quinta maior empresa do mundo em auditoria
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