A abertura da incerteza
A abertura da incerteza
* Antonio Gonçalves
O mundo inteiro está em festa com a Copa do Mundo. Bilhões de pessoas assistirão ao maior espetáculo do esporte mundial, que acontecerá na Ãfrica do Sul. Apesar de toda a euforia pela abertura, nunca é demais lembrar os problemas do continente africano e, em especial, na cidade de Johanesburgo, que seis meses atrás era uma das cidades mais violentas do Mundo e em pouco tempo foi ?maquiada? para receber os jogos mais importantes do mundial. A cidade, que tem cerca de 3 milhões de habitantes, tem a maioria esmagadora vivendo em extrema miséria, num nÃtido contraste entre a ostentação de uma copa e a pobreza plena.
Nesse PaÃs de contrastes temos problemas claros sobre a infraestrutura e a segurança do evento em si, o primeiro deles é o despreparo das autoridades policiais em lidar com a grande massa e com as consequências que esses movimentos acarretam, portanto, a algazarra e o aglomerado tornam propÃcio um atentado ou um ataque por grupos terroristas, ainda mais após as ameaças do grupo terrorista Al Qaeda em relação a atentados envolvendo as seleções de Holanda e Dinamarca, além da tensão permanente que cercará o confronto dos times dos Eua e Inglaterra.
A ameaça dos ataques em si já seria um sério problema, como já foi testemunhado no ataque à seleção de Togo, em que o ônibus da delegação foi metralhado por atentados terroristas, no começo do ano. Entretanto, as falhas e a inexperiência em relação à segurança causam preocupação por ser relativamente fácil romper com o esquema de segurança e prevenção do próprio evento.
Prova disso foi o amistoso entre Nigéria e Coréia do Norte, em que a falta de segurança ficou explÃcita no confronto entre torcedores e policiais, que nitidamente mostraram-se ineficazes na contenção de confusões generalizadas, mesmo em um jogo com pouco mais de 10 mil pessoas. A Fifa, por sua vez, lavou as mãos por se tratar de um evento que ela não organizou.
Diante dos sinais claros cabe à organização local e à FIFA corrigirem todos os problemas ao longo dessa semana para que o efetivo primeiro grande teste, a abertura da Copa, possa ser um sucesso, pois, do contrário, o evento poderá ser tornar um alvo em potencial para as ações terroristas, bem como, de ataques de grupos locais como o Movimento de Resistência (AWB), que prometeu retaliações à s autoridades por ocasião da morte de seu lÃder Africânder Eugene Terreblanche.
De uma forma velada, mas cada vez mais presente, existe uma tensão inerente em torno do que pode vir a acontecer, logo, a abertura será o primeiro grande teste, seguido dos dois jogos de maior periculosidade no sábado e no domingo envolvendo as quatro delegações mais ameaçadas de terrorismo. A melhor maneira de combater é investir em um trabalho conjunto das autoridades locais com as agências internacionais já ambientadas com o combate ao terror. A Ãfrica do Sul não possui qualquer tradição em lidar com células terroristas, o que poderá ser um caos e um temor generalizado, não apenas para as delegações envolvidas com o evento, mas também para os milhares de torcedores que se encontram no PaÃs. A segurança sul-africana é extremamente falha e basta a Al Qaeda cumprir a ameaça que o terror irá se disseminar no PaÃs, tanto na abertura como nos dois jogos de risco.
As falhas servem de aprendizado para que não se coloque em xeque a realização do maior evento esportivo do mundo fora do eixo Europa/América do Norte, que os poucos dias inspirem a organização para arrumar os últimos detalhes de quatro anos de árduo trabalho para que tudo transcorra com o sucesso almejado.
* Antonio Gonçalves é advogado criminalista, especialista em Criminologia Internacional com ênfase em Novas armas contra o terrorismo pelo Istituto Superiore Internazionale di Scienze Criminali, Siracusa (Itália);
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