Se eu sair, minha empresa fecha
Se eu sair, minha empresa fecha
por Luis Marins*
Depois de algum tempo que uma pessoa fica num emprego, ela pode correr o risco de pensar que é insubstituível. Isso é muito comum. A pessoa tem a sensação clara de que se ela deixar a empresa, a empresa não conseguirá sobreviver. Ela começa se achar vítima do patrão, dos chefes e até de seus colegas. Ela começa a ter um desejo inconsciente de ?punir a empresa? através da sua saída, pois ela terá certeza que todos virão de joelhos implorar a sua volta.
Conheço pessoas que ficaram totalmente decepcionadas e mesmo depressivas ao verem que a empresa em que trabalhavam sobreviveu à sua saída e que alguns meses depois nem se lembravam mais dela. Geralmente essas pessoas começam a falar muito mal da empresa em que trabalharam e até mesmo inventam boatos dizendo que a empresa está com problemas financeiros, de qualidade ou outros quaisquer e por isso ela a deixou.
Conheço pessoas que ao deixar seus empregos comentaram ter absoluta certeza de que seus ex-patrões viriam correndo oferecendo salário maior para que voltassem. Um homem que conheci, não aceitou um novo emprego dizendo estar aguardando o telefonema de seu ex-patrão pedindo a sua volta. Eles não conseguirão sobreviver sem mim, afirmou ele. Meses depois, ele continuava desempregado.
Quero deixar claro que esse sentimento de ser insubstituível é natural em muitas pessoas, pois elas realmente são pessoas-chave para as empresas em que trabalham. De fato, seus patrões sentirão muito a sua saída. De fato elas farão falta. Mas cuidado para não cair nessa armadilha. Da mesma forma e com a mesma gravidade, conheço patrões que acreditam que seus funcionários jamais deixarão suas empresas e dizem: ?ele não encontrará emprego igual a este? ou ainda ?ninguém o contratará e ele voltará de joelhos pedindo para voltar?.
Os dois lados se enganam. A verdade é que nem empregados, nem patrões são insubstituíveis e é preciso ter muita humildade, calma, paciência e, principalmente, muito equilíbrio para entender essa verdade.
* Professor Luis Marins é antropólogo
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