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25 de abril de 1984

Data da notícia: 2024-04-22 17:25:40
Foto: Assessoria/Divulga??o

Ao ser aprovado na Universidade Federal de S?o Carlos, um tio exclamou que eu moraria na ?cidade vermelha?. At? ent?o, tinha simpatia pela direita, o contato com diversas correntes comunistas criaram-me um desd?m ainda maior pela esquerda. S? passei a simpatizar pela esquerda ap?s converter-me cat?lico frequentando a Igreja de S?o Sebasti?o seduzido pelo som daquele ?rg?o maravilhoso.

Assim que cheguei a Catanduva, vindo de S?o Carlos, para a P?scoa, fui ? reuni?o da Juventude do PMDB. N?o compactu?vamos com as negocia??es dos mandachuvas que elegeriam o Tancredo Neves pela elei??o indireta, precis?vamos protestar. Creio que a ideia foi do Paolo Dias: fazer um enterro do Congresso Nacional!

Come?amos a ?convocar? todos os progressistas de Catanduva. Os mais velhos j? diziam: ?eu vou, mas n?s seremos presos?. Jovens que ?ramos, n?o t?nhamos medo e sab?amos da necessidade do risco pela ?causa?.

Acompanhei o Paolo e ajudei-o a construir o esqueleto do caix?o, em pouco tempo a urna imaginada pelo Paolo tomava forma. Sentimos uma ponta de orgulho pela ?obra? e pela participa??o no momento pol?tico. Coube ao Paolo revestir aquele esqueleto de papel amarelo, que era a cor das Diretas-J?.

E assim foi, no dia 25 de abril de 1984, uma Quinta-Feira Santa pr?ximo das 17 horas, concentramo-nos na Pra?a 9 de Julho, municiados do caix?o, da faixa de protesto, de um surdo que retinia a cada dez segundos e de roj?es. O temor da pol?cia e, consequente pris?o tomou conta dos ?adultos?. um dos nossos jovens, o mais alto (1,95 m) e forte, sentou-se na lanchonete, come?ou a beber e de l? n?o arredou p?, tremia da cabe?a aos p?s.

Contei umas dez pessoas, bastaria apenas um cambur?o... Iniciamos a descida da rua Brasil sob o olhar incr?dulo das pessoas que passeavam, trabalhavam ou compravam. Incrivelmente, nenhum policial na rua. Ao chegar ? rua Para?ba, perto do final, e sem que ningu?m fosse preso, os populares entraram no ?enterro?, inclusive alguns pol?ticos do partido do Maluf (ex-ARENA, n?o me lembro como se denominavam naquela ?poca).

Esquecemo-nos de avisar a imprensa e, at? mesmo, de registrar o ocorrido com uma fotografia... O Maluf perdeu as elei??es indiretas para o Tancredo. Mas, a ?trai??o? do PMDB ao movimento das Diretas-J? foi imperdo?vel, um golpe fatal que esfriou os ?nimos e extinguiu a Juventude do partido.

Cinco anos mais tarde, venci os preconceitos e aproximei-me do PT, onde reencontrei o entusiasmo. Partido que me custou preconceito, rejei??o e, at? mesmo, sabotagem profissional. Mas jamais desanimei. At? que encontrei ?petistas? desonestos que me amea?aram e me puseram para fora do partido.

Bem, na vida nada pode ser perfeito. Assim como o verdadeiro amor n?o consiste ver e viver apenas o que seja bom, na constru??o de uma poderosa na??o temos que aceitar tamb?m os defeitos e permanecer do lado para ajudar a construir um mundo melhor. E, podem apostar, ? melhor viver lutando para melhorar o mundo do que ser um empecilho. Que todos tenham sempre uma boa noite de sono e com bons sonhos. Se tiver a consci?ncia tranquila!

Fonte: Mario Eugenio Saturno




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