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ARTIGO
SER CRIANÇA

Data da notícia: 2024-10-16 17:31:24
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Chegando mais um Dia da Crian�a e nesta �poca deliciosa � imposs�vel n�o lembrar da minha inf�ncia. Sou de Corup?, terra de dezenas de cachoeiras, pequena cidade aos p�s da Serra do Mar, perto de Joinville. Vivi toda a minha inf�ncia l�, com exce��o de um ano, quando fui estudar em Mafra, mais ao norte de Santa Catarina, em meados dos anos sessenta.

N�o lembro de praticamente nada de antes dos seis, v�spera de minha ida para a escola, pois aquela nova aventura era uma inc�gnita e eu n�o sabia como seriam as coisas l�. Mas vi que n�o era o fim do mundo, gostei da escola, fiz amigos e at� tirava boas notas. Dentre os amigos que fiz, havia um, Eddy, que eu gostava de visitar, pois a fam�lia dele fazia passas de carambolas e como tanto eu como ele gost�vamos das revistinhas Disney: Pato Donald, Mickey, Z� Carioca, Tio Patinhas, sent�vamos debaixo dos tabuleiros onde as frutas secavam para ler e comer as passas. Por um bom tempo eu pegava a bicicleta de minha m�e, mesmo que n�o conseguisse pedalar direito, pois ainda era pequeno, e ia para a casa daquele amigo para ler gibis e comer carambolas secas.

Por falar na bicicleta, minha m�e fazia biscoitos de araruta com coco e eu levava a massa para assar na padaria, de bicicleta. Eu j� era um pouquinho maior, conseguia pedalar, ainda que precisasse ficar de p�. E foi numa dessas viagens � padaria que escorreguei e fiquei preso na corrente da bicicleta, ficando sem a pele de uma boa parte de cima do p� esquerdo. Ainda tenho a marca. Foi um dos muitos sustos que dei em minha m�e, ao chegar em casa com o p� ensanguentado.

Al?m dos gibis, quando n?o t?nhamos dever de casa para fazer e eu n?o tinha que cuidar de meus irm?os ? minha m?e tamb?m trabalhava, por isso tinha que ajudar ? gostava de ouvir f?bulas no r?dio. Havia um hor?rio, ? tarde, em que uma emissora tocava contos infantis e aquilo era uma coisa m?gica, encantada, s? suplantado por uma tia contadora de hist?rias, que infelizmente nos visitava muito pouco, apenas em datas especiais.

Havia algumas ?rvores frut?feras em nossa casa, como laranjeiras, limeiras, abacateiros, goiabeiras, ameixeiras e outras que n?o lembro. O que lembro ? que em ?tardes fagueiras? eu subia num abacateiro amigo, sentava num galho e cantava at? quase estourar, por pura felicidade de ser crian?a. Uma das can??es, que ainda sei de cor, era ?Meus oito anos?, de Casimiro de Abreu.

Mas n?o era s? isso. Naquele tempo n?o havia televis?o, v?deo-games, computadores, apenas o r?dio e o cinema, de vez em quando. Um domingo ou outro a gente ia ? matin?, assistir a um filme de ?caub?i?. E isso dava margens a novas brincadeiras, como as de ?faroeste?, imitando os filmes que v?amos.

Foi uma inf?ncia feliz, aben?oada inf?ncia. Brinc?vamos de coisas que hoje algumas crian?as nem ouviram falar, como bolinha de gude, peteca, bilboqu?, etc. E j? que mencionei este ?ltimo brinquedo, na ?ltima viagem ao Rio Grande, recentemente, tive uma aut?ntica volta ? inf?ncia. Eis que, sen?o quando, ao passear na pracinha de Nova Petr?polis, perto do labirinto verde, encontrei bilboqu?s de madeira, numa lojinha de um quiosque. Comprei um, afinal ele ? quase o bot?o de ligar o t?nel do tempo, embora hoje meus bra?os n?o ajudem muito e eu possa brincar pouco tempo. Mas ainda acerto.

Aprendi a nadar muito cedo, pois sempre havia um rio por perto ? eu disse que minha cidade ? a Cidade das Cachoeiras? Gostava de pescar e aprendi at? a pegar peixe na toca, com as m?os. S? n?o aprendi a pescar de tarrafa. Mas isso fica para uma outra inf?ncia.

At? os dez ou onze anos, morei num lado da cidade, perto de um rio. Depois mudamos para o centro, perto de outro rio de um lado e perto da estrada de ferro do outro. Isto significa que parte da minha inf?ncia e quase toda a adolesc?ncia eu passei ?s margens dos trilhos do trem, que naquele tempo ainda tinha passageiros. Viaj?vamos para Joinville, S?o Francisco, Mafra, Jaragu? do Sul, Curitiba, de trem.

And?vamos a p? pelos trilhos, para cortar caminho para ir ? escola, por exemplo. E para ir at? a ponte que ficava mais adiante, do lado oposto da cidade, para mergulhar no rio l? de cima. Coisa que minha m?e n?o sabia, ? claro.

Como j? mencionei, eu tirava boas notas. E foi na escola, nos tempos de gin?sio (a segunda parte do primeiro grau de hoje), que fui descobrir que gostava de escrever. O col?gio onde estudava participou de um concurso de reda??es sobre as afinidades Brasil/Portugal e eu tirei o primeiro lugar da cidade, com recebimento de trof?u em solenidade no cinema e tudo. Poucos anos depois, j? adolescente, ganhei outro concurso de contos da revista Rainha, que assin?vamos, com pr?mio em dinheiro, inclusive. Foi um grande incentivo.

Fonte: Luiz Carlos Amorim




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