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ARTIGO
A os danos invisíveis do clima extremo sobre as crianças

Data da notícia: 2025-02-21 09:29:30
Foto: Clóvis Francisco Constantino

Há alguns anos ecoaria com normalidade refutar previsões de catástrofes ambientais. Infelizmente, esse tempo acabou e os efeitos negativos impactam a qualidade de vida de todos, sobretudo de crianças e adolescentes. Um exemplo claro das mudanças climáticas é apresentado pelo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef): eventos climáticos deixaram 1,7 milhão de alunos brasileiros sem aulas em 2024.

Este ano, o cenário não é muito diferente. Cerca de 700 mil alunos da rede pública de ensino do Rio Grande do Sul não puderam retornar às aulas. O motivo? A onda de calor extremo. Os termômetros bateram 40º graus e a sensação térmica em alguns lugares atingiu quase 50º. Não podemos nos esquecer que, no ano passado, parte dessas crianças e adolescentes sentiu na pele os danos provocados pelas enchentes.

Não há como negar: a crise climática que enfrentamos hoje é resultado direto das nossas ações sobre a natureza. Emissões de gases decorrentes de incêndios florestais, como os que assolaram vários estados brasileiros em 2024; da queima de combustíveis fósseis; das indústrias; e de outras atividades humanas têm aumentado a temperatura do planeta de forma acelerada, colocando em xeque o nosso estilo de vida. Assim, evidencia-se a urgência de uma ação coletiva e consciente sobre o meio ambiente, que envolva a todos.

Além disso, é preciso pensar em como fica a saúde psíquica dessa população após passar uma tragédia de tamanha magnitude. Muitos presenciaram perdas materiais, afetivas e até o falecimento de parentes e pessoas próximas. Como fazer uma criança e/ou um adolescente voltar à normalidade após algo assim? Como explicar para eles que talvez tenham que se acostumar a isso?

Neste contexto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem se mobilizado para sensibilizar pediatras, educadores e a população sobre a importância da natureza para o desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes. O contato com áreas verdes não é apenas esteticamente agradável, mas fundamental para o crescimento infantil e o processo de descoberta do mundo.

Atividades ao ar livre incentivam um estilo de vida mais ativo e menos dependente das telas, além de fortalecerem os vínculos familiares. Para que uma criança saiba da importância da natureza é primordial que a escola fale sobre o tema. Da mesma forma, em casa, os pais precisam adotar um novo estilo de vida, colocando em prática o que é ensinado em sala de aula, como separar corretamente os resíduos, investir em uma alimentação mais saudável e consumir de um jeito mais consciente.

O exemplo diário tem uma força imensa na formação de uma nova consciência ambiental. Neste aspecto, o documentário “A Conspiração Consumista” deixa claro a importância das nossas escolhas e ressalta que não existe “jogar fora”, o que existe é um ecossistema do qual fazemos parte.

A discussão sobre esse tema deve ser constante, abrangendo todas as esferas da sociedade. Inclusive, a SBP incentiva os pediatras a abordarem a temática ambiental em suas consultas, reforçando para os pais e responsáveis a importância de sua participação na construção de um futuro sustentável para as próximas gerações.

Por fim, deixo aqui uma reflexão para pais, cuidadores, pediatras e educadores: o que estamos fazendo, como sociedade civil, para mitigar os efeitos do aquecimento global? Como estamos discutindo o tema com nossos filhos? Temos pressionado o suficiente para que o poder público adote medidas eficazes? E nós, o que temos feito? Estamos separando nosso lixo? Quando algo quebra, consertamos ou “jogamos fora”? Descartamos remédios, pilhas e lâmpadas nos pontos de coleta ou mandamos tudo para o aterro? Quando vamos tomar um suco ainda pedimos canudo de plástico?

É hora de unirmos forças para (re)construir um mundo mais digno, menos poluído e mais saudável para nossas crianças e adolescentes. A mudança que queremos para nossos filhos e netos precisa começar agora, pois só assim vamos conseguir construir uma nova consciência ambiental. Não adianta lixeira se insistirmos em jogar detritos na rua. A consciência precisa vir antes. Como bem disse o grande dramaturgo Victor Hugo: “É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve”.

*Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e professor de Ética Médica e Bioética.

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