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SABATINA CP
Bianco afirma: “ Eu saí da política, mas a política não saiu de mim”

Data da notícia: 2025-10-17 18:46:02
Foto: Caio Abreu/Divulgação

Com mais de 30 anos de vida política, o entrevistado de outubro é uma das figuras políticas mais conhecidas e respeitadas do estado, que participou do processo de emancipação de Ji-Paraná e ajudou a escrever a Constituição de Rondônia. Prefeito por três mandatos, deputado estadual (e primeiro presidente da Assembleia Legislativa), senador e governador, o Jornal Correio Popular entrevistou José de Abreu Bianco.


CP – Prefeito José Bianco [o CP opta por se referir ao político pelo cargo que exerceu], como foi acompanhar o desenvolvimento de Ji-Paraná e como o senhor, aos 81 anos, avalia o município hoje?

José Bianco – Foi uma experiência grandiosa chegar, na então Vila de Rondônia, em abril ou maio de 1974. Uma caminhada cumprida, sem dúvida nenhuma, acreditando nas pessoas que viviam aqui. Quando eu cheguei tinha somente umas ruazinhas no centro perto da igreja [Dom Bosco], já não funcionava mais o hospital do centro [Nossa Senhora Aparecida], e só funcionava o hospital do doutor Demétrio Bidá [Santa Mônica] e do doutor Severino. E hoje você vê o desenvolvimento na medicina e na educação. Naquela época, nós tínhamos uma crise séria, com a energia que funcionava apenas até as 17 horas, e hoje o estado possui três hidroelétricas. É uma mudança muito grande. Cheguei aqui com aproximadamente 4 mil habitantes e, hoje, temos certamente mais de 140 mil com muitas mudanças, e somos o segundo maior município do estado.


CP – O senhor chegou aos 30 anos de idade em Ji-Paraná. Em sua opinião, qual foi o legado que considera ter deixado após tantos anos de serviços públicos para o estado?

José Bianco – Evidentemente, com segurança, posso dizer que eu participei do crescimento e desenvolvimento não só de Ji-Paraná, mas também do estado de Rondônia. Em Ji-Paraná, fiz parte de reuniões do Conselho de Desenvolvimento e de movimentos que buscavam emancipar o município. Fui presidente da primeira Associação de Advogados de Ji-Paraná, e também o primeiro advogado a estabelecer escritório aqui. Lutamos para instalar a primeira Comarca de advocacia e o primeiro cartório. E depois tive a honra, singularíssima, de ser deputado estadual constituinte, e ajudei na primeira elaboração da Carta Constituinte de Rondônia, fui escolhido como primeiro presidente da Assembleia Constituinte, e depois eleito como o primeiro presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia, em 1983.


CP – Advogado ou político? Qual função o senhor apreciou mais?

José Bianco – A função de advogado tem a ver um pouco com a política, elas estão meio interligadas. Evidentemente, são segmentos separados, e cada uma é bem definida e está no seu canto. Eu advoguei pouco tempo porque assumi o cartório [de Ji-Paraná] na época, mas creio que me dei bem nas duas, quando exercia o cargo político com o mandato e, era advogado, quando estava sem mandato político. Mas minha participação, em 50 anos de Rondônia, que acabou sendo maior, foi mais política do que profissional de advocacia.


CP – O senhor teve mais acertos ou erros em cargos públicos?

José Bianco - Quando você participa, como eu participei, eu exerci seis mandatos e participei, creio eu de 12 ou 13 eleições políticas, você comete erros e comete acertos. Então, certamente eu tive meus acertos e meus erros, que prejudicaram a mim mesmo e certamente outras pessoas. Mas são coisas da vida. E quem exerce liderança tem que estar disposto a enfrentar o que vem pela frente, não pode escolher esse ou aquele, não pode escolher só o filé, tem que tratar aquilo do dia-a-dia. Foi uma experiência muito singular.


CP – Como foi deixar a política depois de tantos anos participando efetivamente?

José Bianco – Para mim, não teve muitos problemas, foi uma situação normal. Quando eu decidi parar de me candidatar, eu já tinha sido prefeito três vezes, e meu último mandato terminou em 2012 e, de lá para cá, não fui mais candidato. Não é que deixei a política! Continuo na política até hoje, falo de política o dia inteiro, vivo política pela internet, TV, com as pessoas e principalmente com aqueles que estão politicamente ativos. É aquela situação, eu saí da política, mas a política não saiu de mim. E, certamente, não há de sair enquanto eu viver.


CP – Teve algum político que o senhor admirou?

José Bianco – Tiveram muitos que acompanhamos em todos esses anos, mas seria injusto se eu citar um, eu poderia esquecer de algum. Eu tive muitos. Alguns foram meus líderes, e eu os acompanhei e admirei. Certamente, eu os tenho em um lugar de respeito e consideração.


CP – Como o senhor vê o nosso cenário político municipal?

José Bianco – No municipal, tivemos um mandato com um pouco de ebulição na gestão passada, com entra e sai do titular e do vice. Eu assumi a prefeitura [em 1989] em uma situação parecida, e assim o mandato fica muito comprometido, isso é muito ruim. O município ainda está se recuperando e está entrando nos trilhos. Eu sou muito positivista e otimista, eu acho que tudo vai caminhando para grandes acertos e a continuidade para o desenvolvimento de Ji-Paraná.


CP – Em 2026, é um ano de eleições com cargos importantes para nosso estado. Temos candidatos que podem representar bem a população?

José Bianco – Sem dúvida nenhuma. Ji-Paraná sempre teve uma boa representação política. Já tivemos governador e candidatos que concorreram, mas não ganharam. Tivemos representantes no Senado como o doutor Claudionor do Couto Roriz, Alcides Paio e o Acir Gurgacz, com dois ou três mandatos, e será possível outro candidato para o cargo. Hoje, falamos na candidatura da [deputada federal] Silvia Cristina, com muitas chances. Nós temos ainda o Marcos Rogério, um grande representante, inclusive, sou favorável, meu amigo particular. Eu preferiria que fosse candidato à reeleição [senado] pela sua desenvoltura que orgulha o Brasil inteiro, mas pode vir ao governo do estado. Portanto, Ji-Paraná continuará com uma boa representação, quer seja aqui no estado ou em Brasília.


CP – Em 51 anos, a que o senhor atribui o desenvolvimento de Ji-Paraná? Pela vinda de muitos migrantes ou pela localização geográfica estratégica do município?

José Bianco – Nós temos o privilégio de estar localizado, praticamente, no centro geodésico do estado. Por isso, as lideranças de Ji-Paraná espalham tanto para a capital como para sul, pois estamos em uma área estratégica. Muito próximo da BR-429 e perto de muitos municípios como Ouro Preto do Oeste, Cacoal, Rolim de Moura, Pimenta Bueno e Presidente Médici. Nossa região é muito abençoada.


CP – Qual mensagem o senhor deixaria para os jovens de hoje?

José Bianco – Eu acho que todo jovem percebe as coisas mais fáceis do que nós percebíamos quando tínhamos a idade deles. E com esse advento tão forte da internet que traz informações uma atrás da outra, eu acho que o jovem já sabe que nada no Brasil ou no mundo inteiro não acontece sem passar pela política. Participe da política, ela faz parte de cada um de nós, e vai sempre ocorrer assim enquanto o mundo continuar sendo mundo.

Fonte: Da Redação




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